sábado, 15 de março de 2014

Uma nova educação

Uma nova educação

ISTOÉ revela projeto do Ministério da Educação, em parceria

 com o Instituto Ayrton Senna, que prevê inclusão de habilidades

 socioemocionais na grade curricular. Estudos mostram como 

elas melhoram o desempenho escolar

Camila Brandalise (camila@istoe.com.br)
A sala de aula é a mesma. Alunos em carteiras enfileiradas se esforçam para prestar atenção ao que diz a professora, estrategicamente posicionada em frente à lousa. Mas no lugar de questões envolvendo temas tradicionais, como raiz quadrada ou uso da crase, o debate entre os estudantes, adolescentes na faixa dos 13 anos, suscita outras discussões. “Como você se vê hoje?” e “O que espera da vida adulta?” são algumas das perguntas feitas durante uma aula de formação social do Colégio Pentágono, em São Paulo. Além de autoconhecimento, os jovens desenvolvem conceitos como respeito e responsabilidade. Apesar de esses não serem temas frequentes no cotidiano do ensino brasileiro, as chamadas competências não cognitivas ou socioemocionais estão no centro do debate de como melhorar a educação no País e devem transformar a forma como o ensino é ministrado nas instituições públicas e privadas do Brasil. Tanto que várias escolas as incluíram em seus projetos – seja com aulas específicas ou com propostas pedagógicas gerais. Em levantamento inédito, o Instituto Ayrton Senna (IAS) concluiu, por meio de uma avaliação aplicada a cerca de 25 mil estudantes da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro em outubro de 2013, que o ensino dessas qualidades impacta direta e positivamente o aprendizado de língua portuguesa e de matemática. A intenção é que a ferramenta, elaborada em parceria com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), seja usada para medir o desenvolvimento dessas competências nas escolas.
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CLASSE
Aula de formação social do colégio Pentágono, em São Paulo:
alunos trabalham respeito e responsabilidade
Os resultados parciais desse trabalho, ao qual ISTOÉ teve acesso com exclusividade, serão divulgados no Fórum Internacional de Políticas Públicas, realizado pelo Instituto Ayrton Senna, a OCDE e o MEC nos dias 24 e 25 de março, em São Paulo. A intenção do IAS ao elaborar um sistema de medição das chamadas habilidades socioemocionais foi fomentar o desenvolvimento dessa área, para que possam ser criadas políticas públicas específicas. A esse projeto somam-se ainda esforços do Ministério da Educação para desenvolver novas propostas sobre o tema. Uma delas, que também deve ser anunciada durante o encontro, diz respeito à formação de especialistas brasileiros com foco nessas habilidades socioemocionais. “O governo já se posicionou a favor da criação de um programa em processo de formulação, e não será difícil implementá-lo rapidamente. Pode ser, por exemplo, um braço do Ciência sem Fronteiras”, afirma Mozart Neves Ramos, membro do Conselho Nacional de Educação (CNE), que faz parte do MEC, e diretor de articulação e inovação do Instituto Ayrton Senna, referindo-se ao programa de bolsa de estudos no Exterior para alunos da graduação. “Para nos aprofundarmos no tema, precisamos de profissionais com formação específica na área, o que exige conhecimentos multidisciplinares em educação, economia e psicologia.”
Outro projeto diz respeito à comissão especial do CNE voltada para discutir a importância das habilidades socioemocionais no sucesso escolar. O conselheiro Francisco Cordão afirma que até meados deste ano haverá um parecer, a ser aprovado pelo conselho, com orientações de como trabalhar essas competências na escola. Essas diretrizes, ainda em fase de estudos, serão enviadas às instituições de ensino do País para que sejam formuladas maneiras de trabalhar as habilidades socioemocionais na educação básica (ensino infantil, fundamental e médio). “Já discutimos, por exemplo, recomendações para a formação de professores, que precisam estar alinhados a uma perspectiva mais ampla, mobilizando não apenas o aprendizado de conteúdos das disciplinas, mas habilidades, atitudes e emoções que são importantes no processo de ensino”, diz Cordão.
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A ferramenta de avaliação criada pelo Instituto Ayrton Senna visa a orientar o trabalho dos gestores educacionais. A prova consiste em 62 questões para o quinto ano do ensino fundamental e 92 questões para o primeiro e terceiro ano do ensino médio e traz perguntas referentes à percepção do aluno sobre seu próprio comportamento e sobre quem ele é. Com os resultados em mãos, é feito um cruzamento relacionando desempenho escolar e situação socioeconômica. Os dados obtidos no projeto-piloto, aplicado em escolas públicas do Estado do Rio em 2013 e feito em parceria com a secretaria estadual de Educação, mostram que pelo menos três grupos de competências socioemocionais tem um impacto bastante relevante no desempenho dos estudantes em língua portuguesa e em matemática (leia quadro na pág. 54). Entre outros resultados, chama a atenção ainda o impacto negativo da extroversão no ensino de língua portuguesa. “O que notamos é que a escola não está preparada para canalizar a energia dos jovens extrovertidos para o aprendizado”, afirma Tatiana Filgueiras, coordenadora da área de avaliação e desenvolvimento do Instituto Ayrton Senna.
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Outro dado interessante foi o fato de que alunos de famílias de melhor condição socioeconômica apresentaram graus mais baixos na competência conscienciosidade, que engloba responsabilidade e tem relação com o aprendizado de matemática, segundo Tatiana. Presidente do Instituto Ayrton Senna, Viviane Senna ressalta esse caráter democrático das competências socioemocionais. “Desenvolver foco, persistência, responsabilidade, curiosidade, criatividade e outras características depende mais das atitudes dos adultos que convivem com esses alunos, em casa ou na escola, do que de condições específicas e não replicáveis, como a condição socioeconômica da família”, diz. Essa é uma excelente notícia para uma estratégia de redução das desigualdades intoleráveis, por meio de ações educativas intencionais, segundo Viviane. “E o Brasil de hoje, com o desafio de dar um salto expressivo na qualidade da educação, não pode deixar passar despercebido um acelerador da qualidade tão importante quanto esse.”
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MODELO
Vinicius Pereira e Juliana Gomes, ambos de 16 anos, alunos do colégio
Chico Anysio, no Rio, que passou pelo projeto-piloto do IAS
A ideia é que seja estabelecida uma agenda na área das não cognitivas. A partir desses esforços, tanto do terceiro setor quanto do governo, o objetivo é inserir essas questões no projeto pedagógico das escolas com delimitações específicas. Não é necessário criar uma disciplina para passar esses conceitos. As medidas podem ser trabalhadas de maneira transversal, em todas as aulas. Em língua portuguesa, por exemplo, em vez de pedir aos alunos que escrevam sobre as férias, o professor pode solicitar uma redação em que as crianças falem sobre um problema que conseguiram enfrentar. “Há várias possibilidades para o futuro. O primeiro grande desafio era aprender a medir. Agora o tema precisa ser desenvolvido”, afirma Daniel Santos, professor de economia da Universidade de São Paulo e especialista em desenvolvimento infantil e socioemocional na escola. No atual sistema de avaliação tradicional, diz o especialista, se uma escola não atinge bom desempenho, a conclusão é de que não há planejamento ou falta preparo dos professores. “Mas será que não é a parte não cognitiva que está influenciando esse resultado?”
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No Pentágono, tanto as aulas de formação social quanto as de tutoria, ambas dadas a partir do sexto ano, trabalham conceitos relacionados às habilidades não cognitivas há cerca de cinco anos. “Não abandonamos o rigor, temos todas as aulas tradicionais. Mas nos preocupamos com a formação do indivíduo, porque a escola é um espaço de socialização”, diz Américo Francisco dos Santos, coordenador-geral do ensino fundamental 2 da rede Pentágono. No Rio de Janeiro, uma das escolas que participaram do piloto do projeto do IAS foi o Colégio Estadual Chico Anysio. “Em nossa grade, temos um projeto chamado Núcleo. Os alunos têm oito encontros de 50 minutos por semana em que trabalham autogestão, projeto de vida, autoconhecimento, entre outros temas”, diz Willmann Costa, diretor da instituição. Colégio que ficou em terceiro lugar no último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o Elite Vale do Aço, em Ipatinga (MG), estuda incluir essas competências no projeto pedagógico. “O objetivo é acrescentar na grade curricular do ano que vem outras habilidades além das cognitivas”, afirma o diretor Átila Zanone.
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Alguns educadores, porém, ainda se mostram receosos em relação a essas medidas. “A escola não pode absorver tudo. Acredito que determinada formação é responsabilidade da família”, diz Rosângela Fonseca Napoleão do Rego, coordenadora-geral pedagógica do colégio Lerote, de Teresina. “Se ensinamos conceitos no colégio e em casa a realidade é outra, não tem sentido.” Apesar de ser uma crítica comum, especialistas afirmam que não se trata de ensinar valores ou tomar o lugar dos pais. Essas competências e habilidades podem e devem ser trabalhadas no ambiente educacional. “A escola é a primeira chance de a criança se confrontar com a realidade social, é o lugar onde ela descobre outra maneira de viver com seus semelhantes. Por isso, precisamos incluir essas capacidades socioemocionais”, afirma a psicóloga infantil Ana Olmos. “Ainda existe desconhecimento sobre o tema, e incorporar isso de maneira intencional no ambiente escolar vai exigir que a instituição aprenda a apresentar aos pais como determinados projetos podem contribuir para formar cidadãos”, diz Mozart Neves, do Conselho Nacional de Educação. Uma coisa é certa: se o mundo e os jovens mudaram, o caminho natural e necessário é que a escola também mude. 

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Uma vida melhor para os diabéticos


Isso será possível graças às novidades que acabam de chegar ao 

Brasil - e às que estão por vir. Entre elas estão remédios que 

controlam a glicemia, emagrecem e ajudam a baixar a pressão 

arterial e uma insulina com efeito de até 40 horas

Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br)
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 Acompanhe uma entrevista com o endocrinologista Walmir Coutin
Um robusto conjunto de novidades que começam a chegar ao Brasil irá mudar para muito melhor a vida dos 12 milhões de diabéticos do País. Entre elas estão remédios que controlam a doença, ajudam a perder peso e ainda contribuem para baixar a pressão arterial, a primeira insulina com ação de até 40 horas e aparelhos que permitem acompanhar a evolução da enfermidade com maior precisão. Somados aos outros avanços que estão por vir, esses recursos representam a maior virada até agora na luta contra a doença. “Estamos vivendo uma era de ouro em relação ao tratamento da diabetes”, afirma o endocrinologista Walter Minicucci, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes. “E o panorama do futuro também é bastante promissor”, acredita.
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A diabetes é uma doença crônica que se tornou um dos maiores problemas de saúde pública mundial. Caracterizada pelo excesso de glicose na corrente sanguínea, a enfermidade traz prejuízos terríveis quando não controlada. Está, por exemplo, diretamente associada ao aumento do risco de eventos cardiovasculares, como o infarto e o acidente vascular cerebral, e figura como uma das principais causas de cegueira no mundo. Por isso, a urgência em se encontrar maneiras mais eficazes de combatê-la, antes que seja tarde demais.
Felizmente, algumas dessas estratégias começaram a desembarcar no País nas últimas semanas. Na segunda-feira 17, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou para comercialização no Brasil a primeira insulina com efeito de até 40 horas. Trata-se da Tresiba (degludeca), fabricada pelo laboratório Novo Nordisk. A insulina é o hormônio que permite a entrada, nas células, da glicose que está circulando no sangue. Quando há algum problema na sua fabricação ou no seu funcionamento, há o acúmulo de açúcar na corrente sanguínea que tanto estraga o organismo. Os portadores do tipo 1 da doença não conseguem fabricar insulina, já que as células que a produzem são destruídas pelo próprio corpo. Por essa razão, são obrigados a recorrer a uma solução externa: injeções diárias de insulina – às vezes mais de uma – para conseguir manter o nível adequado de glicose.
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Até hoje, o tempo mais longo de efeito de uma insulina injetável era de 24 horas. Ou seja, o paciente não podia ficar mais de um dia sem reaplicar o remédio, sob risco de sofrer novamente com o excesso de açúcar no sangue. Com a Tresiba, ganha um tempo extra de janela, caso seja necessário. “Recomendamos que os pacientes tomem uma dose por dia, mas os benefícios da insulina se mantêm por até 40 horas”, explica a endocrinologista Mariana Narbot, gerente médica do Novo Nordisk no Brasil. Isso significa que o diabético terá maior flexibilidade para os intervalos entre as aplicações. Se tomou uma dose às dez da manhã de um dia, não precisará injetar a próxima dose impreterivelmente às dez da manhã do dia seguinte. “Ele ficará com uma melhor qualidade de vida”, diz Mariana.
Espera-se também para os próximos meses a entrada no mercado das duas primeiras medicações que atuam nos rins – o Forxiga, do Laboratório AstraZeneca, e o Invokana, da Jannsen. Os órgãos têm papel importante para o equilíbrio das taxas de glicose no sangue, ao permitirem a reabsorção de parte do açúcar por eles filtrada. A nova classe de drogas – de uso oral – impede justamente esse processo. O resultado é que o açúcar é eliminado pela urina, assim como o sódio. “Há uma queda importante na concentração de glicose”, explica o endocrinologista Walmir Coutinho, presidente eleito da Associação Internacional para o Estudo da Obesidade.
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Na conta final, o paciente acaba com a glicemia controlada e ainda pode sofrer perda de peso e queda na pressão arterial. Em estudos realizados com o Forxiga, por exemplo, a média de perda de peso, após um ano de uso, foi de três a quatro quilos. E houve diminuição de cinco milímetros de mercúrio na pressão arterial sistólica (máxima). Por exemplo, um indivíduo cuja pressão era de 150 mmHg x 80 mmHg pode ter experimentado uma diminuição para 145 mmHg x 80 mmHg. “São vantagens importantíssimas em se tratando de diabéticos, já que a combinação da doença com obesidade e hipertensão arterial é algo perigoso, elevando brutalmente o risco para doenças cardiovasculares”, diz o endocrinologista João Eduardo Nunes Salles, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. O efeito colateral mais importante observado foi infecção genital causada por fungos (a eliminação de muito açúcar pela urina muda a flora bacteriana da região, deixando a área mais propensa à ­proliferação desses micro-organismos). O Laboratório Pfizer também está desenvolvendo uma droga do gênero (ertugliflozin), sob análise em estudo clínico.
Essas medicações reforçam um arsenal já encorpado depois da chegada de remédios que atuam sobre as incretinas, hormônios produzidos pelo intestino e que desempenham papel importante para o equilíbrio dos níveis glicêmicos. “Eles são muito eficientes”, assegura a endocrinologista Maria Fernanda Barca, de São Paulo. A médica Sophia Caldas, 27 anos, faz uso do remédio e está conseguindo controlar a doença. “Também parei de comer pão, macarrão e doce. E meço a glicose todos os dias”, conta.
O monitoramento da doença será outro aspecto ainda mais facilitado.  Deve chegar nos próximos meses ao Brasil uma nova geração de monitores de glicemia. Fabricado pela Sanofi Diabetes em parceria com a Agamatrix, o IBGStar ™ é capaz, por exemplo, de medir as taxas de açúcar, enviar as informações para iPhone ou iPod Touch e  compartilhar os dados com médicos e familiares. O paciente pode criar uma espécie de diário digital da evolução do tratamento, armazenando informações sobre as oscilações nos níveis glicêmicos, entre outras.
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Para aqueles que usam bombas de insulina (infundem o hormônio), a novidade é a chegada do sistema de infusão Paradigm VEO, da Medtronic. É o mais moderno do gênero. Seu diferencial é sua capacidade de interromper o fornecimento de insulina caso os níveis de açúcar no sangue atinjam patamares perigosamente baixos. Trata-se de uma medida de segurança, para evitar que o indivíduo continue a receber insulina mesmo quando não for necessário, correndo o risco de sofrer uma crise de hipoglicemia (falta de glicose na corrente sanguínea). O aparelho acabou de receber autorização da Anvisa para ser vendido no Brasil.
Na Universidade de São Paulo, prossegue uma experiência usando células-tronco para tratar o tipo 1 da enfermidade. O raciocínio é simples. Como esse gênero da doença é causado pelo ataque do sistema de defesa do corpo às células fabricantes de insulina, a ideia é criar um novo sistema imunológico, desta vez sem o defeito que o leva a atacar o próprio organismo. Para isso, primeiro células-tronco são extraídas da medula óssea dos pacientes – é na medula óssea que são fabricadas as células do sistema imunológico. Essas células-tronco, com potencial para dar origem a novas células de defesa, são preservadas. Em seguida, o paciente é submetido a uma quimioterapia intensa, destinada a destruir toda a medula ­defeituosa. Depois, as células-tronco que haviam sido guardadas são reinjetadas, formando uma nova medula óssea. Até agora, 25 diabéticos foram submetidos ao procedimento. Três estão livres da dependência de insulina.
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O estudante de medicina Renato Fernandes Silveira, 25 anos, de São Paulo, não toma mais o remédio há nove anos. “Levo uma vida normal”, conta. “Controlo a ingestão de carboidratos e me exercito. Nunca mais usei insulina.” Neste momento, os pesquisadores se dedicam a entender por que participantes que também haviam interrompido o uso do hormônio foram obrigados a voltar a injetá-lo. “Quatro pacientes já integram essa nova pesquisa. O estudo será realizado em colaboração com cientistas americanos e franceses”, informa o endocrinologista Carlos ­Eduardo Couri, coordenador da Equipe de Transplante de Células-Tronco do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, campus de Ribeirão Preto (SP).
Uma ajuda extra está disponível para diabéticos que necessitem da colocação de stent (dispositivo que desobstrui as artérias coronarianas, que irrigam o coração). Um desses stents, fabricado pela Medtronic, recebeu indicação para ser usado por portadores da doença. Normalmente, eles apresentam vasos sanguíneos com calibre reduzido, tortuosos, calcificados. E esse stent é mais fácil de ser colocado nessas condições. Dessa maneira, a artéria é menos agredida durante a colocação do dispositivo. Isso reduz a possibilidade de ocorrer hiperproliferação das células que revestem o vaso, processo que pode levar a uma reobstrução do local. “Avaliações bem documentadas fundamentaram a liberação e a indicação para que esses stents sejam usados em diabéticos”, afirma o médico Décio Salvadori, chefe de equipe do Hospital Beneficência Portuguesa, de São Paulo. O advogado paulistano Nicola Abisati teve um desses stents implantados. Está recuperado e já voltou à rotina de trabalho.
O futuro também promete boas estratégias. Nos laboratórios ao redor do mundo estão sendo desenvolvidos diversos recursos promissores. Um deles é o chamado pâncreas artificial. Em linhas gerais, é um sistema bem parecido com os aparelhos de infusão de insulina disponíveis atualmente. Mas o pâncreas artificial seria implantado no abdome, ao contrário das bombas de insulina. Ele também é dotado de um esquema inteligente de medição de glicemia e interrompimento do fornecimento de insulina quando necessário. Na Inglaterra, o grupo de Joan Taylor, da De Montfort University, está testando um equipamento do gênero.  “Ele poderá ajudar principalmente os pacientes com o tipo 1 da doença”, disse a pesquisadora à ISTOÉ.
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Uma estratégia igualmente interessante em estudo são as vacinas contra o tipo 1 da enfermidade. Há duas linhas de trabalho. A primeira é a adotada pelos cientistas da Universidade de Standford, nos Estados Unidos. Eles já testaram em 80 pacientes um imunizante que impediu o ataque de um tipo de célula do sistema de defesa às células fabricantes de insulina. “Agora vamos expandir os testes, desta vez com 200 indivíduos”, disse à ISTOÉ Lawrence Steinman, coordenador do trabalho. A segunda aposta vem sendo pesquisada na Universidade de Tampere, na Finlândia. Lá, os pesquisadores querem criar uma vacina contra vírus (enterovírus) associados ao desencadeamento da enfermidade, de acordo com estudos. Um protótipo de imunizante já foi testado em cobaias. “Sabemos que foi efetivo em ratos”, disse o pesquisador Heikki Hyöty, líder da experiência.
Em outra linha de frente estão os pesquisadores que procuram maneiras mais eficazes de prevenir a doença, especialmente o tipo 2. Estudos recentes apontaram, por exemplo, indivíduos com mais risco para a enfermidade. O trabalho executado na Universidade de Groningen, na Noruega, identificou que pessoas com depressão e distúrbios de compulsão alimentar estão nesse grupo. “Os médicos devem ficar atentos a isso”, disse à ISTOÉ Peter de Jonge, coordenador do trabalho. Já os pesquisadores da Universidade Johns Hopkins (Eua) concluíram que também estão sob maior ameaça bebês prematuros. Isso acontece porque, na infância, eles tendem a produzir muita insulina. Depois, na idade adulta, as células podem desenvolver resistência à atuação do hormônio, desencadeando a diabetes tipo 2. 
Cientistas da Universidade de Tel Aviv, em Israel, estão dando uma contribuição igualmente importante nessa seara. Eles verificaram que um teste já disponível, o HbA1c, também serve para indicar a chance de uma pessoa desenvolver o tipo 2 da enfermidade entre os cinco e oito anos seguintes. Hoje, o exame é usado para dar uma medida das oscilações de glicemia em períodos prolongados. Por isso, é considerado um dos melhores indicadores de como a doença está sendo manejada. “Mas descobrimos que ele também aponta o risco futuro de ter o problema”, informou à ISTOÉ Nataly Lerner, responsável pela pesquisa. “Ele é indicado principalmente para pessoas com sobrepeso, sedentárias ou com pressão arterial elevada.”
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Fotos: Kelsen Fermandes, Rafael Hupsel, Bruno Fernandes, FELIPE GABRIEL – Ag. Istoé, Jason Senior REDPIX; Steve Fisch

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Cristo não nasceu no Natal


O 25 de dezembro é apenas uma data simbólica, adotada pela Igreja por volta do século 4. Na verdade, ninguém tem a mais vaga ideia de quando Jesus Cristo nasceu

por Textos Reinaldo José Lopes
Cerca de 30% da humanidade - ou todos aqueles que são cristãos - comemoram o nascimento de Jesus Cristo no Natal, dia 25 de dezembro. A verdade, no entanto, é que ninguém tem a mais vaga ideia de quando Cristo nasceu. É que, apesar da fama de profeta e Messias, ele veio ao mundo como um humilde camponês da Galileia, fato que não provocou muito alvoroço entre os letrados de seu tempo - únicas pessoas que seriam capazes de deixar registros históricos. O mais provável, segundo os estudiosos do tema, é que 25 de dezembro tenha sido a data escolhida para "aniversário" de Jesus por motivos simbólicos, não por corresponder ao dia de seu nascimento. 

Uma das hipóteses com maior número de defensores entre os estudiosos do tema sugere que, em algum momento do século 4, a Igreja fixou a comemoração no dia 25 de dezembro com a intenção de suplantar o antigo - e muito popular - festival pagão do Sol Invicto, que ocorria mais ou menos na mesma época do ano e era pretexto para comilanças homéricas. A festa comemorava o solstício de inverno (dia mais curto do ano). No hemisfério Norte, ele normalmente ocorre por volta do dia 22 de dezembro (21 de julho no hemisfério Sul). 

Mesmo naquela época, comemorar o solstício não era nenhuma novidade. Essa data sempre foi simbolicamente associada a nascimento e renascimento. Babilônios, persas, egípcios, gregos, romanos... Todos esses povos criaram suas próprias homenagens ao deus Sol. "Para não entrar em conflito com essas tradições milenares, a Igreja decidiu fixar a celebração do nascimento de Jesus na mesma época do ano, fim de dezembro", diz Gabriele Cornelli, professor de filosofia antiga da UnB. 

Há quem tente encontrar pistas do verdadeiro "aniversário" de Cristo nos Evangelhos, já que eles reconstituem sua trajetória com base em tradições orais. No Evangelho de Lucas, por exemplo, lê-se a famosa história dos pastores que, enquanto vigiavam rebanhos ao relento, foram avisados por anjos sobre o nascimento do Menino Jesus. Como dezembro é uma época fria demais na região de Belém, principalmente para ficar pajeando ovelhas durante a noite, alguns especuladores apostam em uma data de clima mais ameno - primavera, talvez abril. Poucos estudiosos, no entanto, acreditam que esses textos sejam confiáveis do ponto de vista histórico.

Na ponta do lápis 
Um dos fatores que podem ter influenciado a Igreja quando ela fixou a comemoração do nascimento de Jesus no dia 25 de dezembro envolve cálculos sobre a concepção do Messias. Eruditos cristãos do século 3 especulavam, com base em complicadas contas feitas a partir de textos bíblicos, que o mundo deveria ter sido criado no dia 25 de março. Faria sentido, portanto, que Jesus tivesse sido concebido nessa data, já que sua encarnação representava o recomeço de tudo. Contando 9 meses para frente (o tempo da gravidez de Maria), chegaram à provável data do nascimento: 25 de dezembro. SUPER INTERESSANTE

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Quem anda rápido vive mais


Run, Forrest, run! Pesquisadores da Universidade de Pittsburgh, nos EUA, descobriram que a velocidade em que você anda pode ser um bom indicador de quantas velinhas de aniversário você vai assoprar na vida. Segundo eles, quem anda rápido tende a viver mais tempo. E dizem isso com base na análise de nove pesquisas anteriores, que examinaram a velocidade, o sexo, a idade, o peso e o histórico médico de quase 35 mil pessoas. Entre elas, as que andavam 1 metro por segundo viviam “consistentemente” mais do que outras da mesma idade, mas que se moviam mais lentamente (a média das pessoas com expectativa de vida normal era 0,8 metros por segundo). E os números foram especialmente precisos entre os voluntários com mais de 75 anos. Não que você vá ganhar uns anos a mais de vida se começar, de repente, a correr por aí. Na verdade, a predileção por andar rápido ou devagar é natural. “Sair e andar mais rápido não significa, necessariamente, que você vai viver mais”, diz a líder do estudo, Stephanie Studenski. A expectativa de vida aumenta porque quem se move com mais agilidade – em especial as pessoas de idade mais avançada – demonstra vitalidade e saúde em dia. “Seu corpo escolhe a velocidade ideal para você, e essa é a sua velocidade, o seu indicador de saúde”. SUPER INTERESSANTE 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Ex-executivos da Siemens incluem delator em conluios


Ex-diretor Everton Rheinheimer teria participação em cartel da

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Ex-executivos da Siemens disseram à Polícia Federal que Everton Rheinheimer, delator do cartel metroferroviário, tinha participação no conluio entre multinacionais do setor. Em depoimento à PF, de 7 de novembro, o engenheiro eletricista Peter Andreas Gölitz atribuiu a Rheinheimer atuação nos acordos com empresas para as licitações em São Paulo.

Gölitz é um dos seis lenientes que assinaram o acordo do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), em 22 de maio, para revelar os movimentos do cartel nos governos do PSDB em São Paulo, entre 1998 e 2008. Ele afirmou que "era feita uma simulação dentro da Siemens sobre o preço mínimo que a empresa poderia fazer sem levar prejuízo".

Depois, disse Gölitz, esse estudo era repassado para Rheinheimer, seu superior hierárquico, então diretor da divisão de transportes da Siemens que, por sua vez, se reportava a Newton José Leme Duarte, também do escalão superior da companhia. Gölitz disse acreditar que "Rheinheimer se encontrava com diretores de outras empresas para ajustar a conduta de todas as empresas."

Rheinheimer fez delação premiada na PF em 14 de outubro. Ele fez revelações em cinco páginas sobre pagamento de comissões a políticos. Afirmou que as "contribuições" eram acertadas com diretores da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e do Metrô.

Segundo ele, "às vezes os repasses eram mensais, em outros casos ocorriam durante a execução do contrato". Contou que "os diretores" das estatais é que disseram a ele que as "contribuições" iam para políticos.

Rheinheimer declarou que um lobista "represava" parte dos repasses, o que "desagradava os políticos". Falou, ainda, sobre um jantar na casa do lobista, que reuniu políticos.

Outro leniente, o administrador Daniel Mischa Leibold, que trabalhou na multi alemã entre 1990 e 2008, disse à PF que Rheinheimer fazia "negociações com outras empresas do setor para a formação de consórcios ou subcontratação".

Ronaldo Cavalieri, que trabalhou na Siemens entre 1978 e 2008, relatou à PF que autorizou pagamentos para a Procint e a Constech, consultorias de Arthur Teixeira e Sérgio Teixeira. As autorizações, segundo ele, sempre tinhas as assinaturas de Rheinheimer.

Segundo a PF, a Procint e a Constech eram intermediárias no pagamento de propinas a autoridades. O criminalista Eduardo Carnelós, que defende Arthur Teixeira, dono da Procint, rechaça com veemência a suspeita policial. "O sr. Arthur é um profissional de reputação, jamais foi lobista ou pagador de propinas." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

A segunda morte de JK


A Comissão da Verdade da Câmara de São Paulo quer que o País 

troque a polêmica versão do acidente que matou o ex-presidente 

por uma implausível hipótese de assassinato político sem 

comprovação

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ACIDENTE OU CONSPIRAÇÃO? 
O carro em que o ex-presidente Juscelino Kubitschek viajava, destruído na via Dutra, em 1976
Guimarães Rosa tinha uma frase impecável para expressar a sua relação cética, mas enxerida, com os mistérios do mundo: “Não sei de nada, mas desconfio de muita coisa”. Uma interpretação linear dessa frase do escritor mineiro parece ter inspirado a Comissão da Verdade da Câmara de Vereadores de São Paulo em sua investigação sobre a morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek. Passados 37 anos da tragédia, os vereadores produziram um relatório que se proclama conclusivo: “A Comissão declara o assassínio de Juscelino Kubitschek de Oliveira, vítima de conspiração, complô e atentado político”. O calhamaço montado pelos vereadores paulistanos junta, segundo eles, “90 indícios, provas, testemunhos, controvérsias e questionamentos” para chegar à conclusão de que houve o crime. A leitura da papelada mostra, porém, que ali há realmente quase tudo isso. Exceto “provas”. O que a Comissão Municipal da Verdade está sugerindo é que o País troque a plausível (embora mal documentada) versão de um acidente automobilístico pela inverossímil hipótese de um assassinato político que ainda carece de provas. Embora a remodelação incerta não ofereça nenhuma vantagem para a história brasileira, ela faz barulho por carregar a atração fácil das teorias conspiratórias.

Os historiadores registram que JK viajava de São Paulo para o Rio de Janeiro ao anoitecer do domingo 22 de agosto de 1976. Ia ao encontro da bela Lúcia Pedroso, uma paixão semissecreta que havia 28 anos entrara em sua vida e o ajudava a suportar o “irrespirável” ambiente doméstico, como anotou em seu diário. Ele ia no banco de trás do Opala dirigido por Geraldo Ribeiro, que JK chamava de Platão, seu motorista por mais de três décadas. Na curva do quilômetro 165 da via Dutra, o Opala ultrapassou, indevidamente pela direita, um ônibus da Viação Cometa que acabou tocando-o na traseira esquerda. Desgovernado, o automóvel atravessou a pista e colidiu com uma carreta Scania-Vabis de 12 rodas que trafegava em sentido contrário. O carro foi arrastado por 30 metros, ficou destruído e seus passageiros estavam irreconhecíveis.
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DEFINITIVOS 
Vereadores de São Paulo levantam contradições da 
versão oficial, mas não apresentam provas de crime
 
A Comissão Municipal da Verdade propõe um cenário distinto. Levantando contradições em perícias, testemunhos controversos, elucubrações políticas e doses de pura especulação, joga sobre a fatídica curva da Dutra mais alguns veículos e um magnífico atirador. O carro de JK teria sido perseguido e empurrado por uma Caravan de agentes da ditadura militar brasileira. De dentro da camionete, a 90 quilômetros por hora, o atirador acertou a nuca do motorista Geraldo Ribeiro. Sem controle, o Opala atravessou a pista até ser abalroado pelo caminhão que vinha no sentido oposto. Tudo armado meticulosamente pelo general João Figueiredo, então chefe do Serviço Nacional de Inteligência (SNI). 

O problema básico da nova hipótese da Comissão Municipal da Verdade tem o tamanho de uma carreta Scania carregada de gesso. A Comissão aponta engodos da versão oficial e tentativas de suborno e intimidação por parte dos militares, arrola testemunhos que negam o choque do Opala de JK com o ônibus da Cometa, ouve gente que vislumbrou Geraldo Ribeiro desabado entre o volante e a porta do carro que cruzava as pistas e apresenta até um perito que diz ter visto um buraco de bala no crânio do motorista de JK. Mesmo que tudo isso se confirme, os membros da Comissão não resolveram um detalhe fundamental para que a tese da conspiração criminosa fique em pé: o Scania. Quem planejaria um assassinato que, para dar certo, dependeria de um caminhão que, trafegando desde o Rio de Janeiro, atingisse a curva do quilômetro 165 da Dutra no local preciso e no momento exato em que um Opala desgovernado estivesse atravessando a pista? Quem seria capaz de prever êxito numa empreitada dessas? Sem a carrreta não haveria morte, o carro de JK poderia ter passado direto para o outro lado da Dutra. E se, em vez do Scania, o Opala tivesse batido num Fusca, talvez Juscelino lastimasse apenas uma perna quebrada. Não havia, afinal, um modo mais simples de cometer um assassinato?
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 O aparelho de repressão da ditadura militar brasileira não ficou afamado por expertise em inteligência nem ostenta histórico de sofisticação técnica. Sua rotina se resumia basicamente em moer de pancadas os militantes presos e, com auxílio de equipamentos baratos de tortura, arrancar nomes e endereços de encontros. Ações que se pretenderam mais espetaculares acabaram em tragédia e vexame, como no caso do Rio Centro, quando a bomba destinada a aterrorizar uma plateia de estudantes explodiu no colo do sargento que a carregava. Em inúmeros casos já comprovados a repressão também deixou marca de incompetência na armação de cenários destinados a esconder execuções sumárias de adversários. No caso de JK a Comissão Municipal da Verdade apurou vários indícios de que a documentação da tragédia sofreu manipulações e de que houve algum teatrinho. E é com base nesses achados que vereadores se animaram a seguir adiante para afirmar que a causa da morte de JK foi forjada. Circunstâncias que embasam a conclusão, entretanto, também são historicamente imprecisas.
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Segundo a Comissão, Juscelino Kubitschek, presidente de 1956 a 1961, se articulava para disputar a presidência quando o País retornasse à democracia. E era isso que os militares queriam evitar. Os historiadores mostram, porém, que naquela época Juscelino já não fazia qualquer movimento que pudesse ser chamado de articulação. A ditadura ainda duraria mais nove anos e a última ação política de JK remontaria a 1968, quando ele tentou unir uma frente ampla, destroçada logo depois pelo AI-5. Aos 74 anos, com problemas de saúde, ele achava que não duraria muito. “O construtor de Brasília era um cassado, banido da vida pública havia 12 anos, intimidado por um processo em que a ditadura o acusava de enriquecimento ilícito. Sentia-se exilado em seu próprio País”, relata o jornalista Elio Gaspari em “A Ditadura Encurralada”, um dos quatro livros de sua monumental obra sobre os anos de chumbo. Em 1976, os projetos do ex-presidente eram mais singelos, circunscritos aos 300 alqueires da fazenda em Goiás. Costumava dizer que sua “escala de grandeza” havia se reduzido: “Em lugar de planejar a prosperidade do Brasil, planejo a construção de uma cocheira na fazenda”. O presidente Ernesto Geisel só foi informado sobre a morte de JK um dia depois, na segunda-feira, e reclamou dos assessores. O funeral de JK, oito anos após a edição do AI-5, trouxe o povo de volta às ruas, reunindo três mil pessoas numa passeata pelo Rio e 350 mil nos cortejos em Brasília. “Tanto pedi a Deus que esse homem não morresse no meu governo!”, lastimou Geisel. 

Outra peça-chave do relatório da Comissão Municipal da Verdade deriva de inquirições feitas em 1996. Naquele ano, o ex-secretário particular de Juscelino Kubitschek, Serafim Jardim, questionou judicialmente a versão oficial da morte do antigo amigo e conseguiu a abertura de novas investigações. Por determinação da Justiça, o corpo do motorista do presidente, Geraldo Ribeiro, o Platão, foi exumado e a partir daí foi que surgiu uma das principais suspeitas sobre o caso. Um perito em balística, Alberto Carlos de Minas, que acompanhava a exumação, disse ter visto um furo de bala no crânio de Ribeiro. O perito prestou um novo depoimento à Comissão Municipal da Verdade em novembro. “Quando eles tiraram a caixa ossária eu vi o crânio”, disse Minas. “Vi um provável orifício provocado por entrada ou saída de arma de fogo”. O perito alega que “fecharam imediatamente a caixa e não me deixaram fotografar”. O laudo oficial da exumação acabou apontando a presença no crânio do motorista de um “pequeno fragmento metálico de forma cilindro-cônica, medindo sete milímetros de comprimento e diâmetro médio de dois milímetros”. A Secretaria de Segurança de Minas Gerais concluiu que o metal era “fragmento de prego enferrujado e corroído”. O vereador Gilberto Natalini (PV), presidente da Comissão Municipal da Verdade, se inquieta com essas conclusões: “Prego de caixão vai entrar dentro do crânio de um cadáver? Isso é conto da carochinha. Não sei como o País pode ter acreditado nisso. Vamos pedir uma nova exumação”.
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A ideia da nova exumação desagrada Maria de Lourdes Ribeiro, filha do motorista de JK. Advogada, ela diz que não permitirá a exumação, pois considera “primária” a tese do tiro. “Seria mais confortável para mim se eu comungasse com essa tese”, afirma Maria de Lourdes. “Eu até poderia pedir indenização do governo, mas meu pai me ensinou que a mentira prende e a verdade solta. Meu pai não levou um tiro.” Com a posição firme e exemplar da filha de Platão, é bem provável que o relatório da Comissão Municipal da Verdade não tenha o poder de reescrever a história brasileira como pretendia. Pelo menos até que alguém decida patrocinar uma terceira morte de JK.  
Foto: Marcos Arcoverde/estadão conteúdo
Foto: Gutemberg Gonçalves/Futura Press/Folhapress) ISTOÉ

domingo, 8 de dezembro de 2013

Por que esquecemos as coisas?




Para que a gente continue a aprender coisas novas. Esquecer é fisiológico. "Não seria saudável guardar todos os detalhes de todas as nossas experiências", diz o geriatra Weyler Galvão Pôrto, da Unifesp. O cérebro faz uma seleção do que devemos ou não guardar. Assim, impressões que não têm nenhuma importância deixam de ser armazenadas para dar lugar a outras mais relevantes. O problema é quando esquecemos o que gostaríamos de lembrar. Quanto mais concentrada e emocionalmente envolvida a pessoa estiver na hora de receber uma informação nova, maior é a chance de ela resgatá-la depois. Por isso, a falta de atenção tem estreita relação com a falta de memória. Quando a pessoa está dispersa, fazendo muitas coisas ao mesmo tempo e com preocupações demais, pode simplesmente desligar ao ter contato com um dado novo, deixando de armazená-lo. Há também os famosos brancos.
"A pessoa sabe que tem a informação, mas por estar cansada, emocionalmente desgastada ou sobrecarregada não se lembra", diz a fonoaudióloga Ana Maria Alvarez, autora de um livro sobre o tema chamado Deu Branco. Alimentação ruim, atividade física inadequada, falta de sono, uso de álcool ou drogas e algumas doenças neurológicas degenerativas, como o Alzheimer, também podem afetar a capacidade de memorização. REVISTA MUNDO ESTRANHO 

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

E agora, José?

E agora, Serra?
O ex-governador José Serra nega irregularidades, mas novos documentos obtidos por ISTOÉ mostram que a máfia dos trens, incentivada por agentes públicos, superfaturou contratos em quase R$ 1 bilhão durante sua gestão
Pedro Marcondes de Moura, Sérgio Pardellas e Alan Rodrigues

A primeira reação da maioria dos políticos que se tornam alvo de denúncias de corrupção é negar enfaticamente sua ligação com os malfeitos. A partir do surgimento de novas evidências, em geral as justificativas vão sendo readaptadas. Quase todos agem assim. O ex-governador de São Paulo, José Serra, cumpriu o primeiro passo da má liturgia política, mas não o segundo. Mesmo com o escândalo do Metrô de São Paulo chegando cada vez mais próximo dele, Serra mantém as alegações iniciais. O ex-governador tucano diz que durante sua gestão não tomou conhecimento de qualquer cartel montado por empresas de transportes sobre trilhos. Muito menos que teria incentivado o conluio, pois sempre atuava, segundo ele, a favor do menor preço. Mas Serra não poderá mais entoar por muito tempo esse discurso, sob o risco de ser desmoralizado pelas investigações do Ministério Público. Novos documentos obtidos por ISTOÉ mostram que a máfia que superfaturou contratos com o Metrô de São Paulo e a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) não só agiu durante o governo Serra como foi incentivada por agentes públicos a montar um cartel.

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O TREM DA CORRUPÇÃO
Cartel operou na CPTM durante gestão Serra

Conforme a documentação em poder do MP, as irregularidades ocorreram entre 2008 e2011. No período em que a maior parte dos contratos irregulares foi assinada, Serra era governador (entre 2007 e 2010). Os superfaturamentos estão relacionados a um controverso projeto de modernização de 98 trens das Linhas 1-Azul e 3-Vermelha do Metrô. A reforma dos veículos, com cerca de quatro décadas de operação e considerados “sucata” pelas autoridades que investigam o caso, custam ao erário paulista R$ 2,87 bilhões em valores não corrigidos, um prejuízo de quase R$ 1 bilhão. Para se ter uma ideia, os valores se assemelham aos desembolsados pelo Metrô de Nova York na aquisição de trens novos. E quem vendeu os trens ao Metrô nova-iorquino foi justamente uma das companhias responsáveis pela modernização em São Paulo.

Além do flagrante superfaturamento, o promotor Marcelo Milani, do Patrimônio Público, já confirma a prática de cartel. O conluio, segundo ele, foi incentivado por agentes públicos em pelo menos um dos dez contratos relacionados à modernização. Trata-se do contrato do sistema de sinalização, o CBTC. Em depoimento ao MP, o engenheiro Nelson Branco Marchetti, ex-diretor técnico da divisão de transportes da Siemens, relatou que representantes da multinacional alemã e da concorrente Alstom foram chamados para uma reunião por dirigentes do Metrô e da Secretaria de Transportes Metropolitanos. Na época, o órgão era comandado por José Luiz Portella, conhecido como Portelinha, braço direito de Serra. Durante o encontro, as companhias foram incentivadas a montar cartel para vencer a disputa pelo contrato do sistema de sinalização dos trens das linhas 1, 2 e 3 do Metrô. Os executivos das empresas ainda sugeriram que o governo licitasse a sinalização linha por linha, o que triplicaria a concorrência. Mas o governo foi enfático ao dizer que gostaria que um consórcio formado por duas empresas vencesse os três certames. A Alstom acabou vencendo sozinha o contrato para o fornecimento do CBTC para as três linhas do Metrô. Em outro depoimento prestado à Polícia Federal, Marchetti já havia relatado que as pressões do governo paulista eram constantes. “No edital havia a exigência de um capital social integralizado que a CAF (empresa espanhola) não possuía. Mesmo assim, o então governador do Estado (José Serra) e seus secretários fizeram de tudo para defender a CAF”, declarou ele sobre o contrato para fornecimento de vagões pela CPTM em que o ex-governador e Portella teriam sugerido que Siemens e CAF se aliassem para vencer a licitação. A prática narrada acima acrescenta novos elementos ao escândalo na área de transporte, que Serra, apesar das constantes negativas, não tem mais como refutar.

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CONLUIO
Contratos de modernização de trens das Linhas 1-Azul e 3-Vermelha foram vencidos
sem disputa a preços acima do estabelecido pelo Metrô de São Paulo

Novos documentos e depoimentos em poder do Ministério Público também reforçam que o esquema criminoso teria o apoio de políticos e funcionários públicos beneficiados pelo recebimento de propina. Na última semana, outro executivo da Siemens, além de Everton Rheinheinmer, confirmou a existência de pagamento da comissão para agentes públicos de São Paulo. Em depoimento à Polícia Federal, o vice-chefe do setor de compliance da multinacional alemã, Mark Willian Gough, relacionou uma conta em Luxemburgo de Adilson Primo, ex-presidente da companhia no Brasil, no valor de US$ 7 milhões, aos subornos. À ISTOÉ, um ex-dirigente da MGE, outra empresa envolvida no cartel, também confirmou que representantes da Siemens cobraram de sua companhia o pagamento de propina a autoridades, em troca da obtenção de contratos com o governo paulista. A cobrança teria partido do próprio Rheinheinmer. O dinheiro, segundo o ex-executivo da Siemens, teria como destinatários parlamentares da base aliada ao governo tucano na Assembleia Legislativa. Ainda de acordo com o ex-dirigente da MGE, Rheinheinmer também teria o procurado para abrir uma conta no banco suiço Credit Suisse, em Zurique. O ex-dirigente da MGE afirma que era para lá que a Siemens mandaria parte do dinheiro desviado. “Fui procurado por Everton da Siemens tanto para pagar propina para a base aliada quanto para abrir a conta na Suíça”, confirmou à ISTOÉ o executivo da MGE.

O Ministério Público paulista investiga o superfaturamento na modernização dos 98 trens das Linhas 1-Azul e 3-Vermelha do Metrô paulista há pelo menos um ano e meio. Um dos fatos que chamaram a atenção do promotor Milani foi a falta de competitividade na licitação dos quatro lotes de veículos reformados. Cada um deles foi disputado por um único consórcio, que reunia uma ou mais empresas. Ao final, sagravam-se vencedores com propostas acima dos valores estabelecidos pelo Metrô em consulta de tomada de preço feita com as próprias empresas. Tamanho disparate nos preços fez com que até dirigentes das companhias oferecessem descontos para a estatal. Um deles foi assinado pelo ex-presidente da Siemens Adilson Primo. As apurações, no entanto, esbarravam em um obstáculo. A iniciativa de reformar veículos com cerca de quatro décadas em operação só existe no Estado de São Paulo. Em outros lugares do mundo, esses veículos seriam aposentados e trocados por novos por questão de segurança dos usuários e desempenho do sistema. Sem parâmetro de comparação de preços, ficava inviável concluir se a decisão tomada pela gestão de José Serra lesava ou não os contribuintes paulistas.

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Após realizar 30 oitivas, porém, o promotor pôde confirmar as irregularidades. Ao contrário do que se pensava inicialmente, quando o Metrô de São Paulo justificou que a opção pela reforma aconteceu porque ela sairia 60% mais barato do que o valor a ser desembolsado para compra de trens novos, os altos custos da modernização dos trens não apareciam apenas nos quatro contratos de reforma. Em um claro movimento de despiste, o governo paulista fracionou o serviço e acrescentou outros seis contratos à reforma. O serviço foi, oficialmente, orçado em R$ 1,6 bilhão. Só que, na verdade, a modernização dos 98 trens, com 588 vagões, teve um custo de R$ 2,87 bilhões. Sem contar as correções monetárias. Segundo o Ministério Público, o Metrô de Nova York realizou a compra de 300 vagões, neste ano, por US$ 600 milhões, o equivalente a RS 1,4 bilhão. Pagou proporcionalmente menos pelos veículos novos do que São Paulo está desembolsando na revitalização daquilo que o MP classifica como sucata. Procurado, o Metrô nega problemas com os trens e irregularidades nos contratos.

Em depoimento ao MP em 9 de setembro ao qual ISTOÉ teve acesso, o ex-diretor do Metrô e signatário de contratos da reforma dos trens Sérgio Correa Brasil confirmou que a estatal não previa no orçamento “o chamado truque, bem como a caixa que importariam em 40% do custo final”. No entanto, esses e outros itens, de acordo com seis contratos extras analisados pelo MP, foram licitados e estão sendo trocados. Diante das irregularidades, o promotor Marcelo Milani deu, na terça-feira 3, um prazo de 30 dias para que o presidente do Metrô de São Paulo suspenda os dez contratos de modernização.

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Fotos: PEDRO DIAS

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

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