domingo, 29 de setembro de 2013

O maior problema da educação do Brasil


Metade dos jovens entre 15 e 17 anos não está matriculada no

ensino médio. Pesquisa inédita mostra que a proporção dos que

abandonaram a escola nessa etapa saltou de 7,2% para 16,2% em 12 anos  

João Loes
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Não é sempre que apenas uma estatística basta para dar um bom panorama da realidade. O mais comum é que seja preciso esmiuçar diversos números e informações para realmente compreender o que está em jogo. Quem se debruça sobre o ensino médio brasileiro, porém, se depara com uma única estatística que parece sintetizar, de forma clara, a desastrosa situação desta etapa da educação: a taxa de evasão escolar. Uma nova pesquisa da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), com base em informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE, revela que apenas metade dos jovens com idade entre 15 anos e 17 anos está matriculada no ensino médio. Pior: entre 1999 e 2011, a taxa de evasão nesta faixa mais que dobrou, saltando de 7,2% para 16,2%. Ainda que o número absoluto de alunos venha aumentando, segundo o Ministério da Educação, dados de evasão como esses criam um senso de urgência que se sobrepõe a tudo. “Chama a atenção a dificuldade de enfrentamento da crise do ensino médio”, resume o estudo. “A despeito das reformas, os resultados das avaliações nacionais continuam surpreendendo negativamente os responsáveis pela condução da política educacional brasileira”, conclui.
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ARREPENDIMENTO
A evasão é grande, mas a maioria pensa em voltar à escola
A evasão, nesse contexto, é menos causa que consequência dessa crise. Ela é a parte visível de um conjunto de problemas conhecidos há décadas, mas sobre os quais nenhum governo tem feito o suficiente. “A crise é inquestionável e não podemos mais adiar o enfrentamento de um problema tão grave”, diz Maria de Salete Silva, coordenadora do programa de educação do Fundo das Nações Unidas para a Infância, no Brasil (Unicef). “O ensino médio é o maior desafio da educação do País.” Currículo inchado, com disciplinas demais para tempo de menos, ausência de um programa de ensino técnico integrado a essa etapa escolar, baixa remuneração dos professores e, fundamentalmente, inadequação do ensino médio à vida, às expectativas e às necessidades dos jovens compõem o retrato das dificuldades. “Esperar cinco anos para agir é condenar uma geração que hoje tem entre 15 e 17 anos a não ter perspectivas de futuro”, resume Maria Salete.
O paulistano Mateus Oliveira, hoje com 19 anos, sabe bem quanto abrir mão da educação nessa fase crucial limita as perspectivas de futuro. Quando tinha 17 anos e cursava pela segunda vez o primeiro ano do ensino médio, ele resolveu largar a escola para tentar a carreira de jogador de futebol. “Era um sonho que já tinha me custado a sétima série, que também repeti”, diz. Confiante no talento com a bola, ele insistiu, mas menos de um ano depois percebeu que o caminho não renderia frutos. Com 18 anos e sem o ensino médio concluído, matriculou-se no programa de educação de jovens e adultos, onde um ano de ensino pode ser cumprido em seis meses, e rumou para a carreira militar. Atrasado, finalmente conseguiu concluir o ensino médio esse ano, mas viu e ainda vê oportunidades lhe escaparem por causa da formação atrasada. “Já era para eu ter concluído o curso técnico que acabei de começar, em informática”, diz. Com a capacitação, ele poderia estar ganhando mais no Exército – onde ainda recebe um salário de base, além de não ter segurança de carreira – ou trabalhando como técnico em informática em uma empresa da área. “Me arrependo das decisões que tomei”, diz.
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SONHO FRUSTRADO
Mateus Oliveira, 21 anos, abandonou o ensino médio aos 17 anos
para tentar ser jogador de futebol. Não deu certo e agora ele
quer se tornar técnico em informática
Tratar o caso de Oliveira como o de um garoto perdido que simplesmente preferia jogar bola a estudar é, além de reforçar preconceitos, desperdiçar uma grande oportunidade de entender de onde vem o gigantesco desinteresse do jovem pela escola. Afinal, Oliveira não deixou o estudo só porque o futebol o atraía, mas também porque o colégio não parecia relevante o suficiente para ele. E não são poucas as razões que fazem da escola algo sem importância aos alunos, como mostra a pesquisa do Seade.
O currículo é um dos maiores problemas. Reformado em 1998 e 2012, mas ainda inchado por 13 disciplinas obrigatórias, além de cinco complementares a serem ministradas em conjunto com as demais, ele tem sido considerado excessivamente extenso para os três anos de ensino médio. Recentemente, ganhou força a ideia de dividir as disciplinas em grandes áreas de interesse. Trata-se de uma contribuição vinda do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que surgiu com a única função de avaliar essa etapa educacional, mas que hoje acumula a tarefa de selecionar alunos para universidades federais do País. A proposta é reunir, como acontece no Enem, biologia, física e química sob o guarda-chuva das ciências da natureza; história, geografia, filosofia e sociologia, sob ciências humanas, e assim por diante. “Mas o projeto é de difícil implantação, exige forte interdisciplinariedade, o que não se faz de uma hora para outra”, diz Luis Márcio Barbosa, diretor-geral do Colégio Equipe, em São Paulo.
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PROVEDOR
Hudson Silva, 22 anos, saiu da escola para poder trabalhar e ajudar em casa
Além das questões práticas, como o volume de disciplinas e o tempo disponível para cumpri-las, uma preocupação mais subjetiva com o currículo, mas não menos importante, tem ganhado cada vez mais espaço. Trata-se da distância abissal entre o conteúdo das disciplinas apresentado aos jovens e a realidade da vida que eles levam. “A escola continua muito tradicional, engessada diante da vida mutante do adolescente contemporâneo”, afirma o educador Barbosa. A chamada “integração do currículo às tecnologias educacionais”, meta no relatório do Seade, é um dos maiores gargalos. Hoje, segundo pesquisa do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), 84,4% dos brasileiros com idade entre 15 e 19 anos usam a internet para estudar. Outros 25,9% recorrem a tablets e celulares. ­Enquanto isso, poucas escolas no País fazem uma integração real de conteúdo e tecnologia, embora 73,8% delas já contem com computador e internet. Este descompasso entre expectativas dos alunos e entrega da escola é forte gerador de desinteresse, mas não é o único.
A ausência de uma articulação mais eficiente entre ensino profissional e ensino médio também é tida como uma das razões para a evasão nesta fase. Reconhecer que nem todos, ao completar 18 anos, vão rumar para a universidade e oferecer a alternativa do aprendizado técnico durante o ensino médio pode ser um caminho para manter alunos na escola. Se essa opção estivesse disponível para o paulistano Hudson Laton da Silva, hoje com 21 anos, ele provavelmente teria terminado a educação básica. Morador da Brasilândia, na zona norte de São Paulo, Silva saiu do colégio para se dedicar integralmente ao trabalho quando cursava o primeiro ano do ensino médio. “Tinha que ajudar em casa”, conta. Ele trabalha como mecânico e, se um curso técnico nessa área tivesse sido oferecido na escola onde ele estudava, o jovem teria uma razão a mais para continuar frequentando a instituição. Hoje ele corre atrás do prejuízo. Mesmo empregado – ele é funcionário de uma grande concessionária na capital paulista –, Silva pretende fazer um supletivo e finalmente terminar o ensino médio. “Vou ser sincero: vontade de voltar a estudar eu não tenho, mas sei que é importante, então quero fazer o supletivo”, diz.
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Boa parte dos que deixam de estudar pensa como ele e fala em retornar. Segundo dados da pesquisa do Cebrap, 61,8% dos jovens que abandonaram a escola nessa fase querem voltar para concluir o ensino médio, independentemente da razão que motivou a evasão. “Algumas decisões são tomadas de maneira impulsiva porque o adolescente já tem alguma autonomia, mas tem dificuldade para pensar a longo prazo”, diz Maria Cristina Figueiredo, coordenadora do Colégio Brasil Canadá, para quem, na adolescência, tudo é mais interessante que estudar. “Mas eles pensam no que fazem, refletem e costumam se arrepender quando veem que fizeram besteira.” Cabe à escola e aos pais dar subsídios ao aluno para que ele consiga administrar os impulsos da idade. Nem sempre, porém, é possível. A paranaense Andreia Tawlak, hoje com 21 anos, conhece, como poucos, as consequências da entrega às paixões adolescentes.
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Dona de um histórico escolar conturbado – ela havia repetido a sétima série e cursava pela segunda vez o primeiro ano do ensino médio –, Andreia surpreendeu a todos quando, aos 17 anos, anunciou que estava de mudança para Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Apaixonada pelo primeiro namorado, de 23 anos, ela diz ter sido convencida por ele a largar tudo e acompanhá-lo. “Foi coisa de idiota”, admite, hoje. O relacionamento durou um ano e meio, Andreia teve de retornar para Foz do Iguaçu, onde morava, e hoje está às voltas com um supletivo que não consegue terminar enquanto sonha com cursos de design e um emprego na área. “Os amigos do tempo de escola que continuaram estudando estão todos trabalhando. E eu? O que estou fazendo?”, questiona.
Embora muitos especialistas defendam que, mesmo em casos como o de Andreia, a escola tem responsabilidade por não ter mostrado à aluna a importância de permanecer em sala de aula, há visões contrárias a esta tese. A diretora do Sindicato dos Professores de São Paulo (Sinpro-SP), Silvia Barbara, afirma que “jovens adultos” com seus 16, 17 anos devem assumir suas obrigações. “Nas análises dos problemas na educação, a escola e os professores são sempre os mais criticados e pouca ou nenhuma responsabilidade é legada ao adolescente e à família”, diz. Silvia diz ainda que a cruzada em favor de uma escola que privilegie ser agradável aos alunos antes de se preocupar em passar a eles o conhecimento acumulado da humanidade pode ter efeitos nocivos. “Vivemos em uma sociedade que valoriza demais o prazer e criminaliza demais o trabalho. E estudar sempre dará trabalho”, afirma.
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FASE
Maria Cristina Figueiredo, coordenadora do Colégio Brasil Canadá:
"Na adolescência, tudo é mais interessante que estudar", diz ela
Quando um jovem abandona a escola, perdem todos. A exclusão pela educação cria um abismo social e inibe o surgimento de um cidadão com uma participação social mais efetiva. Perde também o Brasil. “O País deixa de ter um profissional de nível médio com formação geral e um potencial profissional de nível técnico pós-médio ou de nível superior, com formação específica”, alerta Priscilla Tavares, professora e pesquisadora da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) em São Paulo. “As consequências do abandono no ensino são severas para o crescimento econômico.” Já passou da hora de enfrentarmos esse desafio.
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sábado, 28 de setembro de 2013

Poder, sexo e corrupção


Como um doleiro e cinco beldades ambiciosas se juntaram a 

prefeitos e parlamentares para desviar recursos dos fundos de

pensão

Josie Jeronimo
Com 11 homens e cinco loiras, em menos de dois anos uma quadrilha em atividade em sete  Estados brasileiros desviou R$ 300 milhões de institutos de previdência complementar de servidores municipais. Convencido de que a oferta de beleza feminina poderia ser usada como um argumento irresistível para seduzir prefeitos, que têm o direito legal de movimentar, com uma assinatura, as milionárias reservas que garantem a aposentadoria complementar de funcionários públicos, o doleiro Fayed Traboulsi foi à luta por um mercado próspero e seguro.
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BOA DE LÁBIA
Após conversa com parentes do prefeito Maguito Vilela  (acima),
a “pastinha” Luciane Hoepers (abaixo) arrebatou R$ 9 milhões
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Constituído por arquitetos financeiros, investidores e simples oportunistas, o grupo abusava de uma estratégia clássica – a cruzada de pernas em ambiente de trabalho – para conquistar mais clientes e fechar novos contratos. A quadrilha foi apanhada pela Polícia Federal na Operação Miqueias, assim chamada em homenagem a um profeta bíblico do século VII a.C., conhecido por ter deixado uma maldição que atravessou 2.700 anos: “Ai daqueles que tramam o mal em suas camas”. Em relatório, a PF descreve as aventuras de Luciane Hoepers, Isabela Helena, Fernanda Cardoso, Cynthia Cabral e Alline Olivier em Amazonas, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Rondônia e Tocantins.  
Lindas e bem ensaiadas, as moças conhecidas como “pastinhas” eram encarregadas de uma  missão decisiva de toda negociação: o primeiro contato. Marcavam visitas em gabinete, aceitavam convites para almoçar e jantar. Não saíam de perto até que os contratos fossem assinados. A polícia não faz relatos explícitos sobre o que ocorria antes, durante e depois dos primeiros contatos. Deixa tudo para a imaginação de cada um.  
Loira, olhos azuis, com tatuagens provocantes num corpo de 1,75 m esculpido em academias de ginástica, Luciane Hoepers, 33 anos, foi a pioneira na atividade. Seu potencial para o negócio foi intuído pelo doleiro Traboulsi e confirmado várias vezes. Num bem-humorado depoimento prestado à polícia, na semana passada, Luciane admitiu que, entre dez prefeitos seduzidos, engatou namoro firme com pelo menos um.
Ambiciosa e desembaraçada  – numa experiência profissional anterior animava programas de auditório –, Luciane  trouxe resultados com tanta rapidez que a equipe feminina logo foi ampliada. Uma das moças, Fernanda Cardoso, agia em encontros de prefeitos na capital federal. Garota-propaganda de academia, Cynthia Cabral, 31 anos, disputava fundos de pensão (e atenções dos prefeitos)  em cidades menores nas vizinhanças de Brasília. Mas nenhuma acumulou tantas proezas como Luciane, especialista em grandes transações. Apenas 72 horas depois de receber Luciane em audiência, em Cuiabá, o prefeito Chico Galindo registrou pedido para transferir R$ 21 milhões para os fundos gerenciados pela quadrilha. Após uma conversa iniciada com dois parentes do prefeito Maguito Vilela, de Aparecida de Goiânia, ela arrebatou R$ 9 milhões, operação que, conforme a Polícia, gerou prejuízo de R$ 1,4 milhão. Antes de se dedicar aos fundos de pensão e de ter sido presa pela PF por participar do esquema, Luciane foi sócia de uma empresa que fornecia material gráfico para prefeituras de Santa Catarina, seu Estado natal. Acusada de apresentar notas superfaturadas, foi afastada da empresa pela antiga sócia.
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A mobilização de moças bonitas para dobrar homens públicos é um recurso comum. Quando Brasília debatia a legalização do jogo, sete modelos esculturais recebiam R$ 22 mil mensais para desfilar pelo Congresso e puxar conversa com parlamentares. Hoje, empresas de telefonia, marcas de refrigerante e mineradores investem nesse tipo de auxílio direto. Mas as moças dos fundos de pensão tinham um charme especial: não ficavam de bico calado nas reuniões. Eram treinadas para  argumentar em tom profissional sobre opções financeiras, responder perguntas técnicas e comparar rendimentos dos concorrentes, a começar pela Caixa Econômica e pelo Banco do Brasil, maiores reservatórios dos depósitos dos fundos de pensão do setor público, conhecidos por manter uma postura prudente nos investimentos. A combinação daqueles corpos espetaculares  – depois que o caso foi parar nos jornais, Luciana Hoepers aguarda convites para fotos em revistas masculinas – com uma conversa em torno de milhões de reais deixava os prefeitos boquiabertos e vencidos. “Todo mundo oferece benefícios para atrair um cliente que possui recursos milionários. Mas o padrão é oferecer vantagens, e não mulheres bonitas,” afirma um executivo da Caixa.
Para desvendar os segredos da quadrilha, a Polícia Federal escalou a delegada Andréia Pinho para conduzir as investigações. Andréia logo viu que  o esquema gerou prejuízos ao pensionistas e ganhos incríveis para a quadrilha. Os ganhos maiores não ficavam com a mão de obra feminina, mas mesmo esta era bem remunerada. Costumava receber entre 2% e 5% dos ganhos permitidos por cada negócio. O bando comprou uma dezena de carros de luxo, no valor de R$ 500 mil cada um. Também adquiriu um iate de R$ 5 milhões. No plano pessoal, as companhias femininas abalaram o casamento de pelo menos um parlamentar.
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sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Desemprego em agosto cai para 5,3%, segundo IBGE


O número de trabalhadores com carteira assinada ficou em 11,7 

milhões, 3,1% maior do que o mesmo período do ano passado

Agência Brasil
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A taxa de desemprego caiu para 5,3% em agosto deste ano, depois de ficar em 5,6% em julho. Em relação a agosto de 2012, no entanto, a taxa manteve-se estável. O dado foi divulgado hoje (26) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em sua Pesquisa Mensal de Emprego (PME). É a menor taxa desde dezembro, que havia sido 4,6%.
Segundo o IBGE, a população desocupada caiu 6% em relação a julho, alcançando 1,3 milhão de pessoas nas seis regiões metropolitanas pesquisadas. Já a população ocupada manteve-se estável em 23,2 milhões de pessoas, o que mostra que não houve aumento na geração de postos de trabalho entre os dois meses. Em relação a agosto de 2012, no entanto, foram criados 273 mil empregos.
O número de trabalhadores com carteira assinada ficou em 11,7 milhões, o mesmo de julho, e 3,1% maior do que agosto do ano passado.

Ibope/Estadão: Marina cai, Dilma cresce e abre 22 pontos

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Presidente aumenta vantagem sobre a segunda colocada na corrida eleitoral na comparação com pesquisa de julho, que apontava diferença de 8 pontos

26 de setembro de 2013 | 18h 51





José Roberto de Toledo e Daniel Bramatti - Estadão Dados
Pesquisa nacional Ibope em parceria com o Estado mostra que Dilma Rousseff (PT) abriu 22 pontos sobre a segunda colocada, Marina Silva (sem partido), na corrida presidencial. Em julho, a diferença era de 8 pontos. Desde então, a presidente cresceu em ambos os cenários de primeiro turno estimulados pelo Ibope, enquanto Marina perdeu seis pontos, se distanciando de Dilma e ficando mais ameaçada pelos outros candidatos.
No cenário que tem Aécio Neves como candidato do PSDB, Dilma cresceu de 30% para 38% nos dois últimos meses. Ao mesmo tempo, Marina caiu de 22% para 16%. Aécio oscilou de 13% para 11%, enquanto Eduardo Campos (PSB) foi de 5% para 4%. A taxa de eleitores sem candidato continua alta: 31% (dos quais, 15% dizem que votarão em branco ou anularão, e 16% não sabem responder).
O cenário com José Serra como candidato do PSDB não tem diferenças relevantes: Dilma tem 37%, contra 16% de Marina, 12% de Serra e 4% de Campos. Nessa hipótese, 30% não têm candidato: 14% de branco e nulo, e 16% de não sabe. Não há cenário idêntico a esse em pesquisa anterior do Ibope para comparar.
Nos dois cenários, Dilma tem intenção de voto superior à soma de seus três adversários: 37% contra 32% (cenário Serra) e 38% contra 31% (cenário Aécio). Isso indica chance de vitória no primeiro turno. Mas convém lembrar que praticamente 1 em cada 3 eleitores não tem candidato e ainda falta um ano para a eleição.

A atual corrida presidencial tem sido marcada por altos e baixos dramáticos. Em março, Dilma chegou a 58% de intenções de voto, segundo o Ibope. Despencou para 30% em julho, e, agora, recuperou um terço dos eleitores que perdera. Essas oscilações podem se repetir até a hora de o eleitor ir às urnas, em 2014.
O Ibope fez a pesquisa entre os dias 12 e 16 de setembro, em todas as regiões o Brasil. Foram entrevistados 2.002 eleitores, face a face. A margem de erro máxima é de 2 pontos porcentuais, para mais ou para menos, num intervalo de confiança de 95%.
Segundo turno. Não foi apenas no cenário estimulado de primeiro turno que Dilma se distanciou de Marina. Na simulação de segundo turno entre as duas, a petista venceria a rival por 43% a 26%, se a eleição fosse hoje. Em julho, logo depois dos protestos em massa que tomaram as ruas das metrópoles, Dilma e Marina estavam tecnicamente empatadas: 35% a 34%, respectivamente.
Segundo as simulações do Ibope, tanto faz se o candidato do PSDB for Aécio ou Serra. Se a eleição fosse hoje, a presidente venceria ambos por 45% a 21% num segundo turno. Contra Eduardo Campos, a vitória seria mais fácil: 46% a 14%.

sábado, 21 de setembro de 2013

Mortes em família

Em menos de dois meses, quatro tragédias familiares ocorreram

 na Grande São Paulo. Como explicar esses homicídios?

Natália Mestre e Andres Vera
Em um período de menos de dois meses, a região metropolitana de São Paulo foi palco da morte de quatro famílias inteiras. Além do assassinato dos Pesseghini, os PMs que teriam sido executados pelo filho de 13 anos, outras duas tragédias chocam pela brutalidade que é um pai ou uma mãe ser capaz de tirar a vida do próprio rebento. No início do mês, na cidade de Cotia, o cabeleireiro Claudinei Pedrotti Júnior, 39 anos, envenenou a mulher, Suelen da Silva, os filhos de 7 e 2 anos e a si próprio. No sábado 14, a polícia se deparou com os corpos das adolescentes Paola Knorr Victorazzo, 13 anos, e Giovanna Knorr Victorazzo, 14, em uma casa no bairro do Butantã, na zona oeste. A mãe delas estava deitada no chão da sala. Muito abalada, Mary Knorr, 53 anos, dizia que havia matado as filhas e que queria morrer. Ela foi levada ao Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP), onde permanece internada. “Para a investigação não resta dúvida: foi a mãe que assassinou as meninas”, diz o delegado responsável, Gilmar Contrera. “Policiais e médicos ouviram a confissão dela.” As meninas morreram asfixiadas. O último caso segue em aberto. A auxiliar de enfermagem Diná Vieira Lopes da Silva, 43 anos, e seus quatro filhos foram encontrados sem vida em casa, na terça-feira 17, em Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo. Há três linhas de investigação: assassinato cometido pelo namorado de Diná, envenenamento e vazamento de gás no apartamento.
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É inevitável tentar entender o que motivou tantas mortes de pessoas da mesma família em um período tão curto de tempo. Embora não haja uma resposta única, alguns paralelos podem ser traçados, segundo especialistas. “A psiquiatria é taxativa. Não se pode admitir que essas pessoas eram sãs. Eram insanos mentais. Quem comete esse tipo de crime costuma ter pré-disposição a atos violentos”, diz o psiquiatra forense Guido Palomba. “Existem, sim, elementos comuns a todos os casos. Há um padrão de frustração extrema, incapacidade de tomar decisões e, finalmente, fuga”, completa Suely Guimarães, doutora em psicologia da Universidade de Brasília (UnB). Os casos espantam porque os possíveis distúrbios mentais não foram detectados por quem convivia com esses assassinos. Na tragédia dos Pesseghini, por exemplo, até hoje os parentes dos PMs não acreditam que o menino seja o autor dos crimes. No caso do Butantã, o pai das adolescentes disse que sua ex-mulher sempre tratou muito bem as filhas. A diarista da família também descreveu Mary como “uma mãe perfeita” e se diz completamente surpresa com os assassinatos.
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A maioria dos especialistas defende a ideia de que os autores dos crimes são pessoas que já possuem transtornos – nem sempre diagnosticados – e, influenciados por algum fenômeno externo, como problemas financeiros ou até mesmo uma briga no trânsito, acabam entrando numa espécie de surto. Nos casos do Butantã e de Cotia, a falta de dinheiro pode ter sido o gatilho. Segundo a polícia, Mary tem quatro passagens por estelionato e deve cerca de R$ 200 mil. Já o cabeleireiro Claudinei era procurado por roubo e, de acordo com o delegado Andreas Schiffmann, estava endividado. O aluguel da casa onde a família morava estava atrasado e a energia elétrica cortada por falta de pagamento. Segundo o Boletim de Ocorrência, um primo relatou à polícia que Claudinei teria dito a uma parente que ia matar a família. Na parede da cozinha da casa, a polícia encontrou escrita com lápis de cor a seguinte frase: “Deus que me perdoe, não consegui cuidar dos meus filhos”, que acredita ser um desabafo do pai. “Esses dois casos são exemplo de quando o provedor da família que, em um momento de desespero, somado a algum tipo de problema mental ou depressão, resolve desistir de tudo e levar consigo os seus dependentes”, explica Guaracy Mingardi, doutor em ciência política pela USP e ex-investigador de polícia.
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É possível ainda que haja algum contágio, quando um determinado caso estimula a ocorrência de outro, especialmente se associado a problemas psiquiátricos prévios. “Pessoas com tendência depressiva, em grau variado, são suscetíveis a mensagens de crime e suicídio. Elas não são determinantes, mas funcionam como gatilho para ações violentas”, diz Suely Guimarães, da UnB. “Cada caso segue sua lógica independente. Os crimes teriam ocorrido de qualquer maneira. Mas a psiquiatria reconhece que pode haver um efeito cascata. Nesse caso, a notícia de um crime pode, sim, influenciar a pessoa a colocar em prática um ato violento latente”, conclui Palomba.
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quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Exumação de Jango depende de relatório, decidem peritos


 

Desde o início dos anos 80, pairam versões de que o ex-

presidente morreu vítima de envenenamento

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No primeiro encontro entre peritos brasileiros e estrangeiros que analisarão os restos mortais de João Goulart (1919-1976), a informação mais aguardada não chegou a ser estabelecida: a data em que o corpo do ex-presidente será exumado e transportado do jazigo da família, em São Borja (RS), para o Instituto Nacional de Criminalística, da Polícia Federal, em Brasília, onde se pretende investigar as causas de sua morte. Ao fim de uma reunião de cinco horas, realizada nesta terça-feira, 17, na sede do INC, autoridades, peritos e familiares chegaram ao consenso de que um relatório pericial ainda precisa ser feito e apresentado em outubro.

Segundo o diretor técnico-científico do instituto, Amaury Souza Jr., que vai liderar o processo pericial, o cronograma para a exumação está mantido, mas há diferenças a acomodar quanto aos critérios. "Isso acontece até com um simples exame de sangue. O instituto de um país pode adotar um padrão diverso ao de outro. E, num trabalho em equipe, é preciso estabelecer uma certa harmonia dos procedimentos", explica Souza Jr. "É um caso difícil. Não sabemos o que vamos encontrar", advertiu. Nesta terça, peritos cubanos foram incorporados ao grupo técnico-científico, a pedido da família Goulart. As análises de Cuba ficarão sob a responsabilidade do reitor da Escola de Medicina de Havana, Jorge Pérez, presente ao encontro.

Todas as instâncias envolvidas no esclarecimento da morte do ex-presidente - Secretaria de Direitos Humanos (SDH), Comissão Nacional da Verdade (CNV), Ministério Público, Polícia Federal e Comitê Internacional da Cruz Vermelha - endossam o movimento feito pela família Goulart, anos atrás, no sentido de recorrer à ciência para esclarecer causas e circunstâncias da morte de Jango, a 6 de dezembro de 1976, em sua fazenda na cidade argentina de Mercedes. Em seu atestado de óbito consta apenas "morto por enfermedad". Não houve pedido de autópsia à época. Desde o início dos anos 80, pairam versões de que Jango morreu vítima de envenenamento, recurso sabidamente utilizado pela Operação Condor.

"Vamos investigar tudo, com muita seriedade", garantiu a ministra Maria do Rosário, na abertura dos trabalhos, no INC. Discutiu-se também se Jango, exumado, terá honras de chefe de Estado. Para Maria do Rosário, o ex-presidente precisa ser lembrado: "Exumar Jango é exumar a ditadura". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.ISTOÉ

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Quais foram as torturas utilizadas na época da ditadura militar no Brasil?


por Roberto Navaro
Uma pesquisa coordenada pela Igreja Católica com documentos produzidos pelos próprios militares identificou mais de cem torturas usadas nos "anos de chumbo" (1964-1985). Esse baú de crueldades, que incluía choques elétricos, afogamentos e muita pancadaria, foi aberto de vez em 1968, o início do período mais duro do regime militar. A partir dessa época, a tortura passou a ser amplamente empregada, especialmente para obter informações de pessoas envolvidas com a luta armada. Contando com a "assessoria técnica" de militares americanos que ensinavam a torturar, grupos policiais e militares começavam a agredir no momento da prisão, invadindo casas ou locais de trabalho. A coisa piorava nas delegacias de polícia e em quartéis, onde muitas vezes havia salas de interrogatório revestidas com material isolante para evitar que os gritos dos presos fossem ouvidos. "Os relatos indicam que os suplícios eram duradouros. Prolongavam-se por horas, eram praticados por diversas pessoas e se repetiam por dias", afirma a juíza Kenarik Boujikain Felippe, da Associação Juízes para a Democracia, em São Paulo. O pau comeu solto até 1974, quando o presidente Ernesto Geisel tomou medidas para diminuir a tortura, afastando vários militares da "linha dura" do Exército. Durante o governo militar, mais de 280 pessoas foram mortas - muitas sob tortura. Mais de cem desapareceram, segundo números reconhecidos oficialmente. Mas ninguém acusado de torturar presos políticos durante a ditadura militar chegou a ser punido. Em 1979, o Congresso aprovou a Lei da Anistia, que determinou que todos os envolvidos em crimes políticos - incluindo os torturadores - fossem perdoados pela Justiça. :-(
tortura
Arquitetura da dorTorturadores abusavam de choques, porradas e drogas para conseguir informações
Cadeira do dragão
Nessa espécie de cadeira elétrica, os presos sentavam pelados numa cadeira revestida de zinco ligada a terminais elétricos. Quando o aparelho era ligado na eletricidade, o zinco transmitia choques a todo o corpo. Muitas vezes, os torturadores enfiavam na cabeça da vítima um balde de metal, onde também eram aplicados choques
Pau-de-arara
É uma das mais antigas formas de tortura usadas no Brasil - já existia nos tempos da escravidão. Com uma barra de ferro atravessada entre os punhos e os joelhos, o preso ficava pelado, amarrado e pendurado a cerca de 20 centímetros do chão. Nessa posição que causa dores atrozes no corpo, o preso sofria com choques, pancadas e queimaduras com cigarros
Choques elétricos
As máquinas usadas nessa tortura eram chamadas de "pimentinha" ou "maricota". Elas geravam choques que aumentavam quando a manivela era girada rapidamente pelo torturador. A descarga elétrica causava queimaduras e convulsões - muitas vezes, seu efeito fazia o preso morder violentamente a própria língua
Espancamentos
Vários tipos de agressões físicas eram combinados às outras formas de tortura. Um dos mais cruéis era o popular "telefone". Com as duas mãos em forma de concha, o torturador dava tapas ao mesmo tempo contra os dois ouvidos do preso. A técnica era tão brutal que podia romper os tímpanos do acusado e provocar surdez permanente
Soro da verdade
O tal soro é o pentotal sódico, uma droga injetável que provoca na vítima um estado de sonolência e reduz as barreiras inibitórias. Sob seu efeito, a pessoa poderia falar coisas que normalmente não contaria - daí o nome "soro da verdade" e seu uso na busca de informações dos presos. Mas seu efeito é pouco confiável e a droga pode até matar
Afogamentos
Os torturadores fechavam as narinas do preso e colocavam uma mangueira ou um tubo de borracha dentro da boca do acusado para obrigá-lo a engolir água. Outro método era mergulhar a cabeça do torturado num balde, tanque ou tambor cheio de água, forçando sua nuca para baixo até o limite do afogamento
Geladeira
Os presos ficavam pelados numa cela baixa e pequena, que os impedia de ficar de pé. Depois, os torturadores alternavam um sistema de refrigeração superfrio e um sistema de aquecimento que produzia calor insuportável, enquanto alto-falantes emitiam sons irritantes. Os presos ficavam na "geladeira" por vários dias, sem água ou comida

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Síria aceita colocar armas químicas sob controle internacional


Medida pode evitar ataque dos Estados Unidos


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O ministro das Relações Exteriores da Síria, Walid Muallem, aceitou nesta terça-feira a proposta russa de colocar o arsenal de armas químicas do país sob controle internacional, informa a agência de notícias russa RT. 

"Ontem, nós tivemos uma rodada muito frutífera de negociações com o ministro do Exterior russo, Sergei Lavrov, e ele nos apresentou uma iniciativa em relação às armas químicas. Ainda durante a noite, nós aceitamos a iniciativa russa", disse Muallem. Segundo o ministro sírio, o acordo tem o objetivo de "retirar os fundamentos para uma agressão americana". 

Na segunda-feira, Moscou anunciou que propôs a Damasco colocar suas armas químicas sob controle internacional para evitar ataques americanos contra o regime de Bashar al-Assad, que os países ocidentais acusam de ter cometido um ataque químico em 21 de agosto perto da capital síria.

Em resposta à proposta, o premiê britânico, David Cameron, cobrou que Rússia e Síria demonstrem serem genuínas as intenções do presidente sírio, Bashar al-Assad. "O ônus está agora sobre o governo russo e o regime de Assad para levar adiante de uma forma que demonstre que a iniciativa é uma oferta genuína e séria", disse um porta-voz de Cameron nesta terça, acrescentando que muitas perguntas continuam sem resposta.

Na mesma linha, a União Europeia (UE) disse ter recebido "com interesse" a proposta. "Toda proposta que possa reduzir a violência na Síria é bem-vinda e estamos dispostos a ajudar no que for", declarou Michael Mann, porta-voz da chefe da diplomacia europeia Catherine Ashton. "A UE sempre está disposta a ajudar no processo de paz, mas temos primeiro que conhecer os detalhes da proposta para saber se é séria e se pode ser aplicada", acrescentou.

Na segunda-feira, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, considerou "potencialmente positiva" a proposta da Rússia.ISTO É

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Como eles espionam


Foi a partir da ilha de Ascensão, a 2,5 mil quilômetros do Recife,

 que agentes de Barack Obama conseguiram bisbilhotar 

conversas telefônicas e trocas de e-mails da presidenta Dilma 

Rousseff

Claudio Dantas Sequeira e Josie Jeronimo
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A cerca de 2,5 mil quilômetros do Recife (PE), numa região inóspita do Atlântico Sul, existe uma pequena ilha de colonização britânica chamada Ascensão. É lá que os agentes de Barack Obama captam aproximadamente dois milhões de mensagens por hora. São basicamente conversas telefônicas, troca de e-mails e posts em redes sociais. É dessa pequena ilha que os técnicos da NSA, uma das agências de inteligência dos Estados Unidos, vêm bisbilhotando as conversas da presidenta Dilma Rousseff e de alguns de seus ministros mais próximos, segundo especialistas ouvidos por ISTOÉ na última semana. A ilha de Ascensão tem apenas 91 quilômetros quadrados e seria irrelevante se não estivesse numa posição estratégica, a meio caminho dos continentes africano e sul-americano. Ao lado de belas praias, sua superfície abriga poderosas estações de interceptação de sinais (Singint), que se erguem como imensas bolas brancas. Elas integram um avançado sistema de inteligência que monitora em tempo real todas as comunicações de Brasil, Argentina, Uruguai, Colômbia e Venezuela e fazem parte de um projeto conhecido como Echelon (leia quadro à pág. 46), que envolve, além dos Estados Unidos, Reino Unido, Nova Zelândia, Austrália e Canadá.
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INÍCIO DE TUDO
Documentos mostrados pelo ex-analista da CIA Edward Snowden indicam
que a interceptação americana partiu da ilha de Ascensão
O indicativo mais forte de que a invasão de Obama nas conversas da presidenta Dilma e seus ministros se deu a partir da ilha está nos próprios documentos exibidos por Edward Snowden, denunciando o esquema. Neles, lê-se, na parte inferior, o grau de classificação “top secret” (ultrasecreto), o tipo de documento Comint/REL (comunicação interceptada) e sua divulgação (USA, GBR, AUS, CAN, NZL), exatamente as siglas que indicam os países do sistema Echelon. “Há um alto grau de probabilidade de que a NSA já tenha entrado não apenas no sistema de comunicações da presidenta, mas em todos os sistemas nacionais críticos”, alerta o consultor em segurança Salvador Ghelfi Raza, que já trabalhou para o governo de Barack Obama.
As antenas da ilha de Ascensão conseguem captar as mensagens logo depois de serem produzidas, antes mesmo que elas cheguem aos satélites para serem distribuídas. Uma vez recolhidas, as informações são lançadas em um gigantesco computador instalado no Fort Meade, em Maryland, nos EUA. Lá, são processadas em um programa chamado Prism (Prisma), que localiza, por intermédio de palavras-chaves, aquilo que os bisbilhoteiros procuram, entre os milhões de dados recebidos por hora. A partir daí as informações são submetidas a um outro programa, que quebra a criptografia. Ainda em Maryland, computadores traduzem as informações coletadas. Feita a análise, o que for de interesse do governo americano será distribuído aos agentes espalhados por todo o mundo para continuar o serviço de monitoramento. Muitas vezes empresas americanas ligadas à telefonia e à internet são acionadas para informações complementares. Com acesso à rede, por um técnico autorizado, é possível captar todo o tráfego de dados, sejam arquivos de vídeo, sejam fotos, trocas de mensagens ou chamadas de voz sobre IP.
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A cooperação de grandes corporações, como Microsoft, Google, Facebook ou mesmo os gigantes da telefonia, Verizon e At&T, é fundamental para o funcionamento da rede da NSA. Documentos vazados pelo WikiLeaks mostram ainda que os EUA contam com dezenas de empresas de segurança da informação, num total de 1,2 milhão de técnicos, agentes e autoridades. Na ilha de Ascensão, que serviu à Inglaterra na Guerra das Malvinas, também estão instalados o serviço de inteligência criptológica britânico (GCHQ), estações de monitoramento de testes nucleares e uma das duas estações da emissora de rádio “The Counting Station”, apelidada de “Cynthia”, pela qual a CIA se comunica com seus agentes secretos espalhados pela América do Sul e África.
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Foi a partir de 11 de setembro de 2011, com George W. Bush e o início da guerra ao terror, que a Casa Branca determinou uma modernização completa da base de Ascensão. Desembarcaram na pequena ilha voos regulares com supercomputadores, novas estações de monitoramento e uma vasta gama de equipamentos de ponta. O contingente de agentes da NSA cresceu cinco vezes e foi acompanhado por esforços britânicos no mesmo sentido. Ao assumir em 2009, Barack Obama determinou uma revisão completa da política de cyberdefesa, que ele classificou como “o mais sério desafio econômico e de segurança nacional” que os EUA deveriam enfrentar como nação. Para o democrata, era necessário promover um salto tecnológico e estratégico em toda a infraestrutura de comunicações e informação. Logo ele nomeou um comitê executivo, integrado por representantes governamentais e do setor empresarial, e um coordenador, o cyberczar, com livre acesso a seu gabinete e com quem passou a despachar diariamente. Hoje, a NSA é a agência principal do sistema de inteligência americano. Abaixo dela estão outras 18, inclusive a velha CIA. Embora muitos acreditem que o Echelon seja coisa do passado, a verdade é que ele foi atualizado e sua plataforma de operação digital é a base da atual defesa cibernética, que não respeita limites na realização de seus objetivos estratégicos, políticos e comerciais.
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