sábado, 15 de março de 2014

Uma nova educação

Uma nova educação

ISTOÉ revela projeto do Ministério da Educação, em parceria

 com o Instituto Ayrton Senna, que prevê inclusão de habilidades

 socioemocionais na grade curricular. Estudos mostram como 

elas melhoram o desempenho escolar

Camila Brandalise (camila@istoe.com.br)
A sala de aula é a mesma. Alunos em carteiras enfileiradas se esforçam para prestar atenção ao que diz a professora, estrategicamente posicionada em frente à lousa. Mas no lugar de questões envolvendo temas tradicionais, como raiz quadrada ou uso da crase, o debate entre os estudantes, adolescentes na faixa dos 13 anos, suscita outras discussões. “Como você se vê hoje?” e “O que espera da vida adulta?” são algumas das perguntas feitas durante uma aula de formação social do Colégio Pentágono, em São Paulo. Além de autoconhecimento, os jovens desenvolvem conceitos como respeito e responsabilidade. Apesar de esses não serem temas frequentes no cotidiano do ensino brasileiro, as chamadas competências não cognitivas ou socioemocionais estão no centro do debate de como melhorar a educação no País e devem transformar a forma como o ensino é ministrado nas instituições públicas e privadas do Brasil. Tanto que várias escolas as incluíram em seus projetos – seja com aulas específicas ou com propostas pedagógicas gerais. Em levantamento inédito, o Instituto Ayrton Senna (IAS) concluiu, por meio de uma avaliação aplicada a cerca de 25 mil estudantes da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro em outubro de 2013, que o ensino dessas qualidades impacta direta e positivamente o aprendizado de língua portuguesa e de matemática. A intenção é que a ferramenta, elaborada em parceria com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), seja usada para medir o desenvolvimento dessas competências nas escolas.
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CLASSE
Aula de formação social do colégio Pentágono, em São Paulo:
alunos trabalham respeito e responsabilidade
Os resultados parciais desse trabalho, ao qual ISTOÉ teve acesso com exclusividade, serão divulgados no Fórum Internacional de Políticas Públicas, realizado pelo Instituto Ayrton Senna, a OCDE e o MEC nos dias 24 e 25 de março, em São Paulo. A intenção do IAS ao elaborar um sistema de medição das chamadas habilidades socioemocionais foi fomentar o desenvolvimento dessa área, para que possam ser criadas políticas públicas específicas. A esse projeto somam-se ainda esforços do Ministério da Educação para desenvolver novas propostas sobre o tema. Uma delas, que também deve ser anunciada durante o encontro, diz respeito à formação de especialistas brasileiros com foco nessas habilidades socioemocionais. “O governo já se posicionou a favor da criação de um programa em processo de formulação, e não será difícil implementá-lo rapidamente. Pode ser, por exemplo, um braço do Ciência sem Fronteiras”, afirma Mozart Neves Ramos, membro do Conselho Nacional de Educação (CNE), que faz parte do MEC, e diretor de articulação e inovação do Instituto Ayrton Senna, referindo-se ao programa de bolsa de estudos no Exterior para alunos da graduação. “Para nos aprofundarmos no tema, precisamos de profissionais com formação específica na área, o que exige conhecimentos multidisciplinares em educação, economia e psicologia.”
Outro projeto diz respeito à comissão especial do CNE voltada para discutir a importância das habilidades socioemocionais no sucesso escolar. O conselheiro Francisco Cordão afirma que até meados deste ano haverá um parecer, a ser aprovado pelo conselho, com orientações de como trabalhar essas competências na escola. Essas diretrizes, ainda em fase de estudos, serão enviadas às instituições de ensino do País para que sejam formuladas maneiras de trabalhar as habilidades socioemocionais na educação básica (ensino infantil, fundamental e médio). “Já discutimos, por exemplo, recomendações para a formação de professores, que precisam estar alinhados a uma perspectiva mais ampla, mobilizando não apenas o aprendizado de conteúdos das disciplinas, mas habilidades, atitudes e emoções que são importantes no processo de ensino”, diz Cordão.
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A ferramenta de avaliação criada pelo Instituto Ayrton Senna visa a orientar o trabalho dos gestores educacionais. A prova consiste em 62 questões para o quinto ano do ensino fundamental e 92 questões para o primeiro e terceiro ano do ensino médio e traz perguntas referentes à percepção do aluno sobre seu próprio comportamento e sobre quem ele é. Com os resultados em mãos, é feito um cruzamento relacionando desempenho escolar e situação socioeconômica. Os dados obtidos no projeto-piloto, aplicado em escolas públicas do Estado do Rio em 2013 e feito em parceria com a secretaria estadual de Educação, mostram que pelo menos três grupos de competências socioemocionais tem um impacto bastante relevante no desempenho dos estudantes em língua portuguesa e em matemática (leia quadro na pág. 54). Entre outros resultados, chama a atenção ainda o impacto negativo da extroversão no ensino de língua portuguesa. “O que notamos é que a escola não está preparada para canalizar a energia dos jovens extrovertidos para o aprendizado”, afirma Tatiana Filgueiras, coordenadora da área de avaliação e desenvolvimento do Instituto Ayrton Senna.
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Outro dado interessante foi o fato de que alunos de famílias de melhor condição socioeconômica apresentaram graus mais baixos na competência conscienciosidade, que engloba responsabilidade e tem relação com o aprendizado de matemática, segundo Tatiana. Presidente do Instituto Ayrton Senna, Viviane Senna ressalta esse caráter democrático das competências socioemocionais. “Desenvolver foco, persistência, responsabilidade, curiosidade, criatividade e outras características depende mais das atitudes dos adultos que convivem com esses alunos, em casa ou na escola, do que de condições específicas e não replicáveis, como a condição socioeconômica da família”, diz. Essa é uma excelente notícia para uma estratégia de redução das desigualdades intoleráveis, por meio de ações educativas intencionais, segundo Viviane. “E o Brasil de hoje, com o desafio de dar um salto expressivo na qualidade da educação, não pode deixar passar despercebido um acelerador da qualidade tão importante quanto esse.”
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MODELO
Vinicius Pereira e Juliana Gomes, ambos de 16 anos, alunos do colégio
Chico Anysio, no Rio, que passou pelo projeto-piloto do IAS
A ideia é que seja estabelecida uma agenda na área das não cognitivas. A partir desses esforços, tanto do terceiro setor quanto do governo, o objetivo é inserir essas questões no projeto pedagógico das escolas com delimitações específicas. Não é necessário criar uma disciplina para passar esses conceitos. As medidas podem ser trabalhadas de maneira transversal, em todas as aulas. Em língua portuguesa, por exemplo, em vez de pedir aos alunos que escrevam sobre as férias, o professor pode solicitar uma redação em que as crianças falem sobre um problema que conseguiram enfrentar. “Há várias possibilidades para o futuro. O primeiro grande desafio era aprender a medir. Agora o tema precisa ser desenvolvido”, afirma Daniel Santos, professor de economia da Universidade de São Paulo e especialista em desenvolvimento infantil e socioemocional na escola. No atual sistema de avaliação tradicional, diz o especialista, se uma escola não atinge bom desempenho, a conclusão é de que não há planejamento ou falta preparo dos professores. “Mas será que não é a parte não cognitiva que está influenciando esse resultado?”
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No Pentágono, tanto as aulas de formação social quanto as de tutoria, ambas dadas a partir do sexto ano, trabalham conceitos relacionados às habilidades não cognitivas há cerca de cinco anos. “Não abandonamos o rigor, temos todas as aulas tradicionais. Mas nos preocupamos com a formação do indivíduo, porque a escola é um espaço de socialização”, diz Américo Francisco dos Santos, coordenador-geral do ensino fundamental 2 da rede Pentágono. No Rio de Janeiro, uma das escolas que participaram do piloto do projeto do IAS foi o Colégio Estadual Chico Anysio. “Em nossa grade, temos um projeto chamado Núcleo. Os alunos têm oito encontros de 50 minutos por semana em que trabalham autogestão, projeto de vida, autoconhecimento, entre outros temas”, diz Willmann Costa, diretor da instituição. Colégio que ficou em terceiro lugar no último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o Elite Vale do Aço, em Ipatinga (MG), estuda incluir essas competências no projeto pedagógico. “O objetivo é acrescentar na grade curricular do ano que vem outras habilidades além das cognitivas”, afirma o diretor Átila Zanone.
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Alguns educadores, porém, ainda se mostram receosos em relação a essas medidas. “A escola não pode absorver tudo. Acredito que determinada formação é responsabilidade da família”, diz Rosângela Fonseca Napoleão do Rego, coordenadora-geral pedagógica do colégio Lerote, de Teresina. “Se ensinamos conceitos no colégio e em casa a realidade é outra, não tem sentido.” Apesar de ser uma crítica comum, especialistas afirmam que não se trata de ensinar valores ou tomar o lugar dos pais. Essas competências e habilidades podem e devem ser trabalhadas no ambiente educacional. “A escola é a primeira chance de a criança se confrontar com a realidade social, é o lugar onde ela descobre outra maneira de viver com seus semelhantes. Por isso, precisamos incluir essas capacidades socioemocionais”, afirma a psicóloga infantil Ana Olmos. “Ainda existe desconhecimento sobre o tema, e incorporar isso de maneira intencional no ambiente escolar vai exigir que a instituição aprenda a apresentar aos pais como determinados projetos podem contribuir para formar cidadãos”, diz Mozart Neves, do Conselho Nacional de Educação. Uma coisa é certa: se o mundo e os jovens mudaram, o caminho natural e necessário é que a escola também mude. 

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Uma vida melhor para os diabéticos


Isso será possível graças às novidades que acabam de chegar ao 

Brasil - e às que estão por vir. Entre elas estão remédios que 

controlam a glicemia, emagrecem e ajudam a baixar a pressão 

arterial e uma insulina com efeito de até 40 horas

Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br)
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 Acompanhe uma entrevista com o endocrinologista Walmir Coutin
Um robusto conjunto de novidades que começam a chegar ao Brasil irá mudar para muito melhor a vida dos 12 milhões de diabéticos do País. Entre elas estão remédios que controlam a doença, ajudam a perder peso e ainda contribuem para baixar a pressão arterial, a primeira insulina com ação de até 40 horas e aparelhos que permitem acompanhar a evolução da enfermidade com maior precisão. Somados aos outros avanços que estão por vir, esses recursos representam a maior virada até agora na luta contra a doença. “Estamos vivendo uma era de ouro em relação ao tratamento da diabetes”, afirma o endocrinologista Walter Minicucci, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes. “E o panorama do futuro também é bastante promissor”, acredita.
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A diabetes é uma doença crônica que se tornou um dos maiores problemas de saúde pública mundial. Caracterizada pelo excesso de glicose na corrente sanguínea, a enfermidade traz prejuízos terríveis quando não controlada. Está, por exemplo, diretamente associada ao aumento do risco de eventos cardiovasculares, como o infarto e o acidente vascular cerebral, e figura como uma das principais causas de cegueira no mundo. Por isso, a urgência em se encontrar maneiras mais eficazes de combatê-la, antes que seja tarde demais.
Felizmente, algumas dessas estratégias começaram a desembarcar no País nas últimas semanas. Na segunda-feira 17, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou para comercialização no Brasil a primeira insulina com efeito de até 40 horas. Trata-se da Tresiba (degludeca), fabricada pelo laboratório Novo Nordisk. A insulina é o hormônio que permite a entrada, nas células, da glicose que está circulando no sangue. Quando há algum problema na sua fabricação ou no seu funcionamento, há o acúmulo de açúcar na corrente sanguínea que tanto estraga o organismo. Os portadores do tipo 1 da doença não conseguem fabricar insulina, já que as células que a produzem são destruídas pelo próprio corpo. Por essa razão, são obrigados a recorrer a uma solução externa: injeções diárias de insulina – às vezes mais de uma – para conseguir manter o nível adequado de glicose.
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Até hoje, o tempo mais longo de efeito de uma insulina injetável era de 24 horas. Ou seja, o paciente não podia ficar mais de um dia sem reaplicar o remédio, sob risco de sofrer novamente com o excesso de açúcar no sangue. Com a Tresiba, ganha um tempo extra de janela, caso seja necessário. “Recomendamos que os pacientes tomem uma dose por dia, mas os benefícios da insulina se mantêm por até 40 horas”, explica a endocrinologista Mariana Narbot, gerente médica do Novo Nordisk no Brasil. Isso significa que o diabético terá maior flexibilidade para os intervalos entre as aplicações. Se tomou uma dose às dez da manhã de um dia, não precisará injetar a próxima dose impreterivelmente às dez da manhã do dia seguinte. “Ele ficará com uma melhor qualidade de vida”, diz Mariana.
Espera-se também para os próximos meses a entrada no mercado das duas primeiras medicações que atuam nos rins – o Forxiga, do Laboratório AstraZeneca, e o Invokana, da Jannsen. Os órgãos têm papel importante para o equilíbrio das taxas de glicose no sangue, ao permitirem a reabsorção de parte do açúcar por eles filtrada. A nova classe de drogas – de uso oral – impede justamente esse processo. O resultado é que o açúcar é eliminado pela urina, assim como o sódio. “Há uma queda importante na concentração de glicose”, explica o endocrinologista Walmir Coutinho, presidente eleito da Associação Internacional para o Estudo da Obesidade.
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Na conta final, o paciente acaba com a glicemia controlada e ainda pode sofrer perda de peso e queda na pressão arterial. Em estudos realizados com o Forxiga, por exemplo, a média de perda de peso, após um ano de uso, foi de três a quatro quilos. E houve diminuição de cinco milímetros de mercúrio na pressão arterial sistólica (máxima). Por exemplo, um indivíduo cuja pressão era de 150 mmHg x 80 mmHg pode ter experimentado uma diminuição para 145 mmHg x 80 mmHg. “São vantagens importantíssimas em se tratando de diabéticos, já que a combinação da doença com obesidade e hipertensão arterial é algo perigoso, elevando brutalmente o risco para doenças cardiovasculares”, diz o endocrinologista João Eduardo Nunes Salles, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. O efeito colateral mais importante observado foi infecção genital causada por fungos (a eliminação de muito açúcar pela urina muda a flora bacteriana da região, deixando a área mais propensa à ­proliferação desses micro-organismos). O Laboratório Pfizer também está desenvolvendo uma droga do gênero (ertugliflozin), sob análise em estudo clínico.
Essas medicações reforçam um arsenal já encorpado depois da chegada de remédios que atuam sobre as incretinas, hormônios produzidos pelo intestino e que desempenham papel importante para o equilíbrio dos níveis glicêmicos. “Eles são muito eficientes”, assegura a endocrinologista Maria Fernanda Barca, de São Paulo. A médica Sophia Caldas, 27 anos, faz uso do remédio e está conseguindo controlar a doença. “Também parei de comer pão, macarrão e doce. E meço a glicose todos os dias”, conta.
O monitoramento da doença será outro aspecto ainda mais facilitado.  Deve chegar nos próximos meses ao Brasil uma nova geração de monitores de glicemia. Fabricado pela Sanofi Diabetes em parceria com a Agamatrix, o IBGStar ™ é capaz, por exemplo, de medir as taxas de açúcar, enviar as informações para iPhone ou iPod Touch e  compartilhar os dados com médicos e familiares. O paciente pode criar uma espécie de diário digital da evolução do tratamento, armazenando informações sobre as oscilações nos níveis glicêmicos, entre outras.
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Para aqueles que usam bombas de insulina (infundem o hormônio), a novidade é a chegada do sistema de infusão Paradigm VEO, da Medtronic. É o mais moderno do gênero. Seu diferencial é sua capacidade de interromper o fornecimento de insulina caso os níveis de açúcar no sangue atinjam patamares perigosamente baixos. Trata-se de uma medida de segurança, para evitar que o indivíduo continue a receber insulina mesmo quando não for necessário, correndo o risco de sofrer uma crise de hipoglicemia (falta de glicose na corrente sanguínea). O aparelho acabou de receber autorização da Anvisa para ser vendido no Brasil.
Na Universidade de São Paulo, prossegue uma experiência usando células-tronco para tratar o tipo 1 da enfermidade. O raciocínio é simples. Como esse gênero da doença é causado pelo ataque do sistema de defesa do corpo às células fabricantes de insulina, a ideia é criar um novo sistema imunológico, desta vez sem o defeito que o leva a atacar o próprio organismo. Para isso, primeiro células-tronco são extraídas da medula óssea dos pacientes – é na medula óssea que são fabricadas as células do sistema imunológico. Essas células-tronco, com potencial para dar origem a novas células de defesa, são preservadas. Em seguida, o paciente é submetido a uma quimioterapia intensa, destinada a destruir toda a medula ­defeituosa. Depois, as células-tronco que haviam sido guardadas são reinjetadas, formando uma nova medula óssea. Até agora, 25 diabéticos foram submetidos ao procedimento. Três estão livres da dependência de insulina.
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O estudante de medicina Renato Fernandes Silveira, 25 anos, de São Paulo, não toma mais o remédio há nove anos. “Levo uma vida normal”, conta. “Controlo a ingestão de carboidratos e me exercito. Nunca mais usei insulina.” Neste momento, os pesquisadores se dedicam a entender por que participantes que também haviam interrompido o uso do hormônio foram obrigados a voltar a injetá-lo. “Quatro pacientes já integram essa nova pesquisa. O estudo será realizado em colaboração com cientistas americanos e franceses”, informa o endocrinologista Carlos ­Eduardo Couri, coordenador da Equipe de Transplante de Células-Tronco do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, campus de Ribeirão Preto (SP).
Uma ajuda extra está disponível para diabéticos que necessitem da colocação de stent (dispositivo que desobstrui as artérias coronarianas, que irrigam o coração). Um desses stents, fabricado pela Medtronic, recebeu indicação para ser usado por portadores da doença. Normalmente, eles apresentam vasos sanguíneos com calibre reduzido, tortuosos, calcificados. E esse stent é mais fácil de ser colocado nessas condições. Dessa maneira, a artéria é menos agredida durante a colocação do dispositivo. Isso reduz a possibilidade de ocorrer hiperproliferação das células que revestem o vaso, processo que pode levar a uma reobstrução do local. “Avaliações bem documentadas fundamentaram a liberação e a indicação para que esses stents sejam usados em diabéticos”, afirma o médico Décio Salvadori, chefe de equipe do Hospital Beneficência Portuguesa, de São Paulo. O advogado paulistano Nicola Abisati teve um desses stents implantados. Está recuperado e já voltou à rotina de trabalho.
O futuro também promete boas estratégias. Nos laboratórios ao redor do mundo estão sendo desenvolvidos diversos recursos promissores. Um deles é o chamado pâncreas artificial. Em linhas gerais, é um sistema bem parecido com os aparelhos de infusão de insulina disponíveis atualmente. Mas o pâncreas artificial seria implantado no abdome, ao contrário das bombas de insulina. Ele também é dotado de um esquema inteligente de medição de glicemia e interrompimento do fornecimento de insulina quando necessário. Na Inglaterra, o grupo de Joan Taylor, da De Montfort University, está testando um equipamento do gênero.  “Ele poderá ajudar principalmente os pacientes com o tipo 1 da doença”, disse a pesquisadora à ISTOÉ.
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Uma estratégia igualmente interessante em estudo são as vacinas contra o tipo 1 da enfermidade. Há duas linhas de trabalho. A primeira é a adotada pelos cientistas da Universidade de Standford, nos Estados Unidos. Eles já testaram em 80 pacientes um imunizante que impediu o ataque de um tipo de célula do sistema de defesa às células fabricantes de insulina. “Agora vamos expandir os testes, desta vez com 200 indivíduos”, disse à ISTOÉ Lawrence Steinman, coordenador do trabalho. A segunda aposta vem sendo pesquisada na Universidade de Tampere, na Finlândia. Lá, os pesquisadores querem criar uma vacina contra vírus (enterovírus) associados ao desencadeamento da enfermidade, de acordo com estudos. Um protótipo de imunizante já foi testado em cobaias. “Sabemos que foi efetivo em ratos”, disse o pesquisador Heikki Hyöty, líder da experiência.
Em outra linha de frente estão os pesquisadores que procuram maneiras mais eficazes de prevenir a doença, especialmente o tipo 2. Estudos recentes apontaram, por exemplo, indivíduos com mais risco para a enfermidade. O trabalho executado na Universidade de Groningen, na Noruega, identificou que pessoas com depressão e distúrbios de compulsão alimentar estão nesse grupo. “Os médicos devem ficar atentos a isso”, disse à ISTOÉ Peter de Jonge, coordenador do trabalho. Já os pesquisadores da Universidade Johns Hopkins (Eua) concluíram que também estão sob maior ameaça bebês prematuros. Isso acontece porque, na infância, eles tendem a produzir muita insulina. Depois, na idade adulta, as células podem desenvolver resistência à atuação do hormônio, desencadeando a diabetes tipo 2. 
Cientistas da Universidade de Tel Aviv, em Israel, estão dando uma contribuição igualmente importante nessa seara. Eles verificaram que um teste já disponível, o HbA1c, também serve para indicar a chance de uma pessoa desenvolver o tipo 2 da enfermidade entre os cinco e oito anos seguintes. Hoje, o exame é usado para dar uma medida das oscilações de glicemia em períodos prolongados. Por isso, é considerado um dos melhores indicadores de como a doença está sendo manejada. “Mas descobrimos que ele também aponta o risco futuro de ter o problema”, informou à ISTOÉ Nataly Lerner, responsável pela pesquisa. “Ele é indicado principalmente para pessoas com sobrepeso, sedentárias ou com pressão arterial elevada.”
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Fotos: Kelsen Fermandes, Rafael Hupsel, Bruno Fernandes, FELIPE GABRIEL – Ag. Istoé, Jason Senior REDPIX; Steve Fisch